Na semana passada, o Brasil realizou o leilão do 5G, que teve como resultado a entrada de uma nova operadora de telefonia no país e criou, através de protocolos presentes nos editais, medidas a serem cumpridas pela nova operadora e as antigas que arremataram novas faixas.
Dentro dessas medidas, estão algumas como levar a Internet a 31 mil quilômetros dentro de rodovias federais do país e instalar a rede em localidades sem 4G, ou seja, o acesso à Internet em território brasileiro ficará melhor distribuído.
Além disso, segundo o Ministério das Comunicações, o Brasil, junto ao Chile, foi o único país da América Latina a fazer leilão com a tecnologia "5G pura".
"O Brasil será o primeiro país da América Latina a implantar a tecnologia 5G SA. O Chile, único país latino-americano que também fez o leilão de faixas específicas para uso do 5G puro, ainda não conseguiu resolver a implantação. Portanto, o Brasil será o primeiro país a ter 5G puro implantado", disse o ministério citado pela revista Exame.
A Sputnik Brasil entrevistou Christian Perrone, head de direito e GovTech do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS) para entender quais as perspectivas do Brasil diante dessa nova tecnologia, qual a diferença entre 5G e 5G puro e o que esperar do novo tipo de conexão que nos aproxima do futuro.
Perrone elucida que o 5G é uma nova tecnologia de conexão à Internet que se une às anteriores: 3G e 4G. Entretanto, há uma boa diferença, pois além de servir para celulares e tablets, o 5G "abre uma porta para uma série de outras tecnologias que vão aproveitar de uma conexão mais rápida, com maior volume de dados e menor latência".
"A resposta do 5G é muito mais rápida, e possibilita conectar várias coisas dentro de uma casa, como a cama, o ar-condicionado, portas [...], além disso, dentro do setor industrial e do agronegócio, o 5G permite toda uma nova gama de possibilidades."
A curto prazo, o especialista explica que o usuário vai perceber "menos invariabilidade na conexão", e que o download de "filmes e músicas vai ser feito de forma muito mais rápida".
Já a médio prazo, o especialista chama atenção para possibilidade de novos objetos fazerem parte do cotidiano das pessoas, uma vez que eles dependem do sinal avançado do 5G para uma boa operação, como os "óculos de realidade virtual" que vão trazer "uma experiência mais imersiva" para o consumidor.
Sebastian Vasquez, tri-campeão mundial de downhill de MTB, anda de bicicleta usando óculos de proteção conectados a uma rede 5G no Chile, 19 de janeiro de 2021
© AP Photo / Esteban Felix
Em relação aos países que já têm o 5G com sua implementação avançada, como China, Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão, Perrone diz que é possível observar a tecnologia sendo amplamente utilizada "nas indústrias, portos, aeroportos, e em alguns experimentos na agricultura".
"Vemos o 5G ser utilizado em drones para cobrir plantação, na indústria em alguns veículos automatizados, na robótica, etc."
Médico aponta para um eletrocardiograma em tempo real de um paciente exibido em uma placa de um hospital em Guangzhou, China, o qual está usando tecnologias 5G para coletar, transmitir e monitorar mais dados em tempo real, 26 de setembro de 2021
© AP Photo / Ng Han Guan
Brasil e América Latina
Sobre o leilão do 5G realizado no Brasil na semana passada, o especialista diz que o mais interessante foi a entrada de novas empresas para operarem no país, e que com isso, "poderá se descortinar novas opções para acesso à Internet, principalmente no interior, onde há aumento na procura por conexão de banda larga".
Perrone também chama atenção para o fato de que apesar de se chamar leilão do 5G, quem "saiu ganhando" foi o 4G.
"Quem saiu ganhando foi o 4G nessa história, porque parte das obrigações de quem comprou esses lotes de 5G é justamente cobrir o território nacional, em torno de 95%, com sinal 4G [...] o que é muito importante, uma vez que uma a cada cinco pessoas no Brasil ainda não está conectada à rede."
Outro ponto importante levantado pelo especialista, é a melhor chance de conectar as redes escolares à Internet, visto que "a maioria já tem conexão, mas dessas que têm, um número significativo só comporta uma banda larga pequena".
Leilão do 5G do Brasil realizado pela Anatel, Brasília, 4 de novembro de 2021
© Folhapress / Mateus Bonomi
Em relação à América Latina, Perrone diz que a região "ainda está muito atrás de outros lugares, tanto no acesso à Internet de forma geral, quanto no acesso à Internet móvel", contudo, "é um mercado muito grande porque há uma 'voracidade' por parte da população de usar a rede mundial".
"O Brasil, por exemplo, está entre os países que mais utilizam a rede diariamente, existe até uma estatística que diz que ficamos conectados, em média, de 3,5 a quatro horas por dia."
O especialista relata que esse grande fluxo, o qual permite à região estar "na crista da onda", faz com que novas portas se abram para outras tecnologias que vão surgir.
"Hoje, a América Latina é um mercado consumidor de produtos e serviços digitais, mas se ela está com um 5G mais avançado existe também a possibilidade de ser um grande mercado produtor", destacou.
Usuário usa celular para testar velocidade da conexão, 4 de novembro de 2021
© Folhapress / Luis Lima Jr
Perrone ressalta o fato de que algumas startups e fintechs brasileiras e latino-americanas vêm apresentando grande destaque, e se essas empresas tiverem acesso ao mercado de 5G antes, elas podem despontar mundialmente.
"Será que a gente consegue desenvolver, já com esse prévio acesso ao 5G, aplicativos, serviços e produtos que podem ganhar o mercado mundial [...]? No caso do Brasil, também há o potencial do agronegócio, imagina todas as potenciais startups que podemos criar tendo já desenvolvido tecnologias direto para essa conectividade chamada 5G, o potencial é enorme", diz o analista.
5G e 5G puro
No domingo (7), o Ministério das Comunicações disse que, além do Brasil, o Chile é o único país latino-americano que também fez leilão de faixas específicas para uso com o 5G "puro".
No entanto, o Chile ainda não conseguiu resolver a implantação totalmente, e com isso, a expectativa é de que o Brasil seja o primeiro país da região a ter o 5G puro em plena atividade.
Perrone explica que "a marca 5G se relaciona com uma série de tecnologias" e que essas tecnologias, quando dizem que tem 5G, "é na verdade um 4G plus, 4.5G, onde há uma melhor utilização desse sinal, mas não chega a ser o sinal 5G de fato".
Fotografia, com drone torre da Anatel em Atibaia, no dia 4 de novembro de 2021
© Folhapress / Louis Moura
Já o 5G puro exige uma aparelhagem especificamente destinada a ele, a qual tem que ser implantada e ali se vê "o aumento da velocidade da Internet em 100 vezes, o volume de dados eleva significativamente e há real diminuição da latência".
"As características mencionadas acima formam o que chamamos de '5G puro'. O 5G que vemos no mercado, que já podemos constatar em alguns celulares, é o 'impuro', ou seja, uma versão do 4G melhorada", explicou o especialista.