Relação comercial Brasil-Reino Unido pós-Brexit: 'Há muito a explorar e a resgatar', diz economista
17:20, 18 de novembro 2021
Esta semana, o Reino Unido apresentou novas propostas para alavancar a economia, focadas no setor de exportações. A Sputnik Brasil conversou com analista para entender os novos planos e se o Brasil pode se beneficiar com os mesmos.
SputnikEm meio a todas as questões envolvendo a conturbada saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o setor econômico é um dos que mais sofre com acordos que, segundo especialistas, foram feitos de forma precipitada e abrupta, não garantindo um bom fluxo de exportações e importações entre o bloco e a nação insular.
Ontem (17), o governo britânico anunciou um novo plano, o Made in the UK (Feito no Reino Unido, na tradução), o qual tem como objetivo ajudar empresas a aproveitarem novas oportunidades nos mercados globais, de
acordo com a BBC.
Segundo a mídia, como parte do projeto, agências governamentais oferecerão novos serviços para ajudar exportadores britânicos a garantirem melhores negócios.
A Sputnik Brasil entrevistou Márcio Sette Fortes, economista e professor de Relações Internacionais do IBMEC, conselheiro da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e diretor Conselheiro da Sociedade Nacional de Agricultura SN para entender sobre a nova investida comercial britânica e se o Brasil pode gerar maiores laços econômicos com Reino Unido.
O especialista conta que o projeto Made in the UK, é um plano focado em deslanchar potenciais de novos exportadores, ou seja, "identificar empresas cujo potencial está travado e extrair dessas empresas o seu melhor".
"Hoje, apenas uma em cada dez empresas do Reino Unido participa de mercados internacionais, o que ainda é muito pouco, no sentido de que as empresas que exploram as potencialidades do mercado internacional se remuneram melhor e pagam salários melhores consequentemente, beneficiando o perfil de consumo do país", explicou.
Em relação às dificuldades de exportação para Europa após o Brexit, Fortes afirma que precisa ficar claro que o acordo significou "o
fim das vantagens que anteriormente eram estendidas aos membros daquele grupo".
"Esses membros usufruíam de vantagens aduaneiras, de vantagens tarifárias que agora não estão mais à disposição do Reino Unido. Então, essa questão, se torna também uma questão burocrática, uma vez que o próprio processo de transação dos produtos de país para país se torna mais burocrático."
Entretanto, Fortes enfatiza que o mercado britânico representa uma fatia pequena das exportações da União Europeia, portanto, o "interesse do Reino Unido de acessar o mercado europeu é muito maior do que o do bloco".
Mesmo assim, o economista considera que a dificuldade nas transações poderia ser pior se não houvesse "
o acordo estabelecido em termos comerciais entre a UE e o Reino Unido para continuar a gerar um certo fluxo".
Reino Unido x Brexit
Na visão do especialista, o Brexit não concebeu vantagens para o Reino Unido, pelo contrário, "ele trouxe problemas a serem resolvidos, uma vez que participar de comércio bilateral com o bloco europeu agora implica em custos maiores".
"Esses custos não existiam antes quando a UE estava integrada com as vantagens aduaneiras estabelecidas, portanto, o aumento desses custos vai elevar os preços enfrentados pelos consumidores e muitas vezes à redução das exportações. Houve e haverá perdas inevitáveis nesse processo."
No entanto, Fortes diz que o plano do Reino Unido para novos mercados
não está focado exclusivamente no espaço europeu, ainda que o mesmo represente uma fatia substancial do mercado consumidor das exportações britânicas, "o projeto para diversificação é ligado a novos mercados".
"O intuito desse planejamento é dar uma maior movimentação e aquecimento na economia, já que também há perdas em outros setores, por exemplo, perda de mão de obra sazonal e no turismo."
O especialista elucida que dentro da mão de obra sazonal, se encontram os trabalhadores europeus que contribuíam para diversas áreas,
como a do agronegócio e da pesca.
Em relação à perda do turismo, Fortes salienta que ela também é complexa, porque "os principais
pontos turísticos europeus vêm se recuperando bem, enquanto que o Reino Unido enfrenta dificuldades. A indústria do turismo é muito representativa para economia britânica".
"Essa realidade se impõe como desafio ao Reino Unido e precisa ser equacionada para que a economia britânica não seja severamente penalizada", complementa.
Comércio Brasil e Reino Unido
Para Fortes, no comércio entre Brasil-Reino Unido "há um enorme potencial a ser explorado" e uma grande parcela das transações deve ser "resgatada".
"Foi criado recentemente um grupo de trabalho entre os dois, no qual a Associação de Comércio Exterior do Brasil [AEB] faz parte junto a outros órgãos. Esse grupo tem como objetivo aprofundar as relações comerciais. Nesse caso, o Brasil se apresenta na figura do Mercosul, uma vez que como membro, nós temos que fazer acordos bilaterais no âmbito do bloco mersoculino", afirmou.
Segundo o economista, existe a perspectiva de um acordo evoluir "não só para aprimorar o comércio exterior, mas também para resgatar o que foi perdido ao longo da última década nos setores onde houve decréscimo".
Fortes destaca que outras "oportunidades" podem surgir a partir do momento que, com o Brexit, o Reino Unido não segue mais as regras da União Europeia.
Nesta semana, a UE enviou um projeto de lei ao Parlamento Europeu pelo qual pretende criar barreiras
para compra de commodities brasileiras que são provenientes de áreas de desmatamento, segundo o especialista.
"Isso abre uma oportunidade para o Brasil já que essa exigência não vem diretamente do Reino Unido. Quando olhamos a pauta de produtos brasileiros vendidos aos compradores britânicos, é possível identificar entre as principais mercadorias produtos agrícolas e metais [...]. Contudo, temos que ter consciência e não podemos descuidar da parte ambiental."
No entanto, de acordo com Welber Barral, membro da consultoria de relações governamentais e comércio internacional BMJ, existe um projeto de lei similar ao da UE em evolução no Reino Unido.
"Isso pode significar novas barreiras às exportações brasileiras", disse Barral
citado pelo jornal O Globo.
18 de outubro 2021, 15:45