À medida em que um embrião começa a se formar, ele é composto de células-tronco com potencial para se tornarem qualquer parte do corpo, desde a matéria cerebral até o tecido ósseo. As células-tronco humanas começam a assumir essas funções específicas durante um processo denominado gastrulação, que ocorre a partir da terceira semana após a fertilização.
Até o presente momento, o processo era considerado uma caixa preta nos estudos de embriologia, e era impossível de ser observado de forma direta. Normas éticas determinam que células-tronco só podem ser cultivadas artificialmente em laboratório por duas semanas, ao mesmo tempo que era impossível observar o processo de gastrulação durante a gestação.
16 de novembro 2021, 09:49
Publicado na revista Nature, o estudo conduzido por Shankar Srinivas trouxe dados diretos sobre como se dá o processo de transformação das células-tronco. Segundo especialistas, este é um novo marco para a embriologia, uma "Pedra de Roseta" (referindo-se à tabuleta encontrada no Egito, em 196 d.C., que auxiliou na compreensão dos hieróglifos) para futuros estudos no desenvolvimento da biologia.
Os dados apresentados forneceram uma base para medir o quão úteis foram os experimentos em outros mamíferos e o serão no futuro. Até agora, os cientistas haviam confiado em amostras de camundongos e primatas não humanos para entender melhor a gastrulação, mas o grau de similaridade com esta fase embrionária em humanos sempre deixou espaço para dúvidas. A novidade é que através deste estudo, ao comparar os resultados com as observações de embriões de camundongos, os pesquisadores encontraram mais semelhanças do que diferenças.
A equipe de Srinivas dissecou uma amostra rara de um embrião humano doado por alguém que sabia da gravidez 16 dias depois da fertilização. Ao resolver-se pelo aborto, a doadora decidiu generosamente encaminhar a amostra para pesquisa. O grupo de cientistas usou um processo chamado sequenciamento de RNA de uma única célula para determinar quais genes estavam ativos em cada uma das mais de 1.000 células individuais. O mapa resultante mostra quais células foram ativadas para assumir certas funções e onde estavam localizadas no embrião de semanas de idade.
"Você tem uma espécie de explosão de diversidade celular", disse o autor do estudo Shankar Srinivas, da Universidade de Oxford, a jornalistas em uma coletiva de imprensa on-line, descrevendo o processo como "lindo".
Apesar das semelhanças entre a fase embrionária de camundongos e seres humanos (do mesmo período), diferenças importantes foram observadas, como a presença de protocélulas sanguíneas em humanos muito mais cedo que nos ratos e a ausência de desenvolvimento de um sistema nervoso no embrião humano, ao contrário dos ratos.
Finalmente, a descoberta pode ajudar a aumentar o limite de 14 dias para o cultivo de embriões para estudo na busca pela compreensão dos mistérios da vida humana.