Usando calças jeans, óculos escuros e de barbas feitas, os infiltrados conseguiram acesso a ministérios, universidades e organizações, tudo sem levantarem suspeita.
Uma reportagem do Wall Street Journal mostra que somente agora, três meses após a saída dos EUA do Afeganistão, é que essa crucial ação feita pelos agentes ilegais está vindo à tona. Um dos líderes do Talibã (organização sob sanções da ONU por atividade terrorista), Mawlawi Mohammad Salim Saad, disse em entrevista ao WSJ que eles tinham "agentes em todas as organizações e departamentos. As unidades já presentes em Cabul, capital do Afeganistão, assumiram controle de locais estratégicos".
Salim Saad participou da tomada do aeroporto de Cabul em agosto e faz parte da rede Haqqani, mais especificamente das forças especiais Badri, célula de combatentes de elite, classificada como grupo terrorista pelas Nações Unidas. Eles também foram responsáveis por capturar documentos do governo afegão após a retirada norte-americana.
Um dos membros da rede Haqqani, Hamdullah Mokhlis, foi morto no dia 2 de novembro após embate com um grupo rival. Esta foi a primeira morte de um membro do alto escalão talibã após a retirada norte-americana.
Nem todos os agentes infiltrados eram das forças Badri, muitos tinham como foco o recrutamento. Agentes com formações acadêmicas de nível superior foram responsáveis por expandir o alcance do Talibã, como explica Ahmad Wali Haqmal, mestre em Direitos Humanos pela Universidade Muçulmana de Aligarh, na Índia:
"Eu estava preparado para pegar um [fuzil] AK-47 e ir, porque nenhum afegão pode tolerar a invasão do seu próprio país. Mas então nossos [líderes] mais velhos nos disseram que não [...] para continuarmos trabalhando nas universidades."
Haqmal não só foi responsável por recrutamentos, como também por desenvolver e divulgar propaganda pró-Talibã. Atualmente ele é porta-voz do Ministério das Finanças.
Outro infiltrado, Assad Massoud Kohistani, chegou a trabalhar em projetos financiados pelos Estados Unidos, o que demonstra a capacidade desses agentes de fraudar e enganar autoridades. Fereshta Abbasi, uma advogada afegã, contou ao WSJ que suspeitava de Kohistani, mas só após a queda de Cabul, quando o até então colega de trabalho apareceu em televisão nacional com um fuzil AK-47, é que ela descobriu que ele era na verdade um dos comandantes do Talibã.
Após 20 anos de ocupação, as Forças Armadas dos Estados Unidos completaram a retirada definitiva de suas tropas no dia 30 de agosto de 2021, o que levou à retomada do poder pelo Talibã. A ocupação foi uma resposta do governo norte-americano, à época chefiado por George W. Bush, aos ataques terroristas do dia 11 de setembro de 2001.