Identificado pela primeira vez há pouco mais de uma década, este ramo já extinto da árvore genealógica humana é o grupo de parentes mais próximo conhecido dos humanos modernos, além dos neandertais.
Os denisovanos foram encontrados em Denisova, caverna na Sibéria responsável pelo seu nome. Até hoje, apenas seis exemplares da espécie haviam sido encontrados. Cinco deles na caverna siberiana e o outro em um local sagrado na China.
Após análise do DNA extraído de fósseis, cientistas sugeriram que os denisovanos podem ter se espalhado pela Ásia continental e ilhas do sudeste da Ásia e Oceania e revelaram que pelo menos dois grupos distintos de denisovanos tiveram cruzamentos com ancestrais dos humanos modernos.
Com esta descoberta, outros três novos fósseis denisovanos foram achados na caverna Denisova, sendo estes os mais antigos já encontrados, de cerca de 200.000 anos. Os primeiros fósseis da espécie tinham cerca de 122.000 e 194.000 anos.
A linhagem extinta é identificável através de proteínas encontradas no DNA dos fósseis. Neste novo estudo, os pesquisadores examinaram 3.791 restos encontrados na caverna Denisova. Dentre eles, foram identificados cinco ossos humanos. Apenas quatro tinham DNA suficiente para análise, dos quais três eram de denisovanos e um de neandertal, embora duas das amostras denisovanas possam pertencer ao mesmo indivíduo.
"Ficamos extremamente entusiasmados em identificar três novos ossos denisovanos entre as camadas mais antigas da caverna Denisova", disse a autora sênior do estudo e cientista arqueológica da Universidade de Viena, na Áustria, Katerina Douka, ao Live Science. "Nós visamos especificamente essas camadas onde nenhum outro fóssil humano foi encontrado antes, e nossa estratégia funcionou."
Fragmentos de ossos usados em análise molecular encontrados na caverna Denisova, na Sibéria
© Foto / S. Brown
Esta camada também continha uma série de artefatos de pedra e restos de animais, que podem servir como pistas arqueológicas sobre a vida e o comportamento dos denisovanos. Até então, os fósseis da espécie eram encontrados em camadas sem material arqueológico, ou em camadas com material predominantemente neandertal.
Segundo o novo estudo publicado na Nature, os denisovanos viveram em uma época na qual o clima era quente e comparável ao de hoje, em locais favoráveis à vida humana que incluíam florestas de folhas largas e estepes abertas. Os restos queimados de animais encontrados junto dos espécimes sugerem que os denisovanos podem ter se alimentado de cervos, gazelas, cavalos, bisões e rinocerontes peludos.
"Podemos inferir que os denisovanos se adaptaram bem a seus ambientes, utilizando todos os recursos disponíveis para eles", disse Douka.
Os artefatos encontrados na camada junto aos fósseis denisovanos são, na maioria, ferramentas de raspagem, que provavelmente eram usadas para lidar com as peles dos animais. Segundo os cientistas, os denisovanos utilizavam sedimentos do rio, do lado de fora da entrada da caverna, como matéria-prima para a confecção dos artefatos. A proximidade com o rio foi provavelmente outro fator que os ajudou a caçar, observam os cientistas.
As ferramentas de pedra encontradas com os fósseis não possuem correlação direta com ferramentas encontradas no norte ou centro da Ásia, mas possuem alguma semelhança com itens encontrados em Israel que datam de 250.000 a 400.000 anos atrás. Segundo os pesquisadores, o período está ligado às grandes mudanças nas tecnologias humanas, como o uso frequente do fogo.
Cabe ressaltar que os denisovanos podem não ter sido os únicos ocupantes da caverna nesse período. Ossos de carnívoros, como lobos e cães selvagens, sugerem que os denisovanos podem ter competido com outros predadores tanto por presas quanto pela caverna.
"No momento, nossa equipe continua a trabalhar na caverna Denisova e em vários outros sítios asiáticos e espera relatar algumas novidades interessantes muito em breve", disse Douka.