O Irã sugeriu mudar radicalmente as condições do acordo nuclear assinado em 2015, informou no sábado (4) Mikhail Ulyanov, representante permanente da Rússia nas organizações internacionais em Viena, Áustria.
"Entendo que os nossos parceiros ocidentais ficaram profundamente admirados pelo fato de o lado iraniano ter sugerido [...] fazer mudanças radicais
no projeto do documento nuclear, que havia sido acordado durante as seis rodadas [de negociações] anteriores. Eles [os parceiros ocidentais] sentiram que a abordagem é demasiado radical, daí essa reação dolorosa", comentou ele.
Ulyanov sublinhou que Teerã tem motivos para tentar evitar novo colapso do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês).
"Podemos sublinhar como nota positiva que, em 30 de outubro, os líderes dos EUA, Reino Unido, Alemanha e França fizeram uma declaração conjunta, na qual está incluída uma frase do presidente [norte-americano] Joe Biden confirmando a disponibilidade dos Estados Unidos em cumprir integralmente o acordo nuclear renovado, enquanto Irã o fizer. Possivelmente, é um elemento de garantia política. Simplesmente é necessário, acho, incluí-la em um documento como parte do processo de negociações."
Na sexta-feira (3) os EUA interromperam as negociações em Viena, considerando que
"o Irã não parece sério" em voltar a cumprir o JCPOA.
Ulyanov acrescentou que há uma regra nas conversações nucleares em Viena, que "nada é acordado enquanto não concordarem todos".
"Todos se ouviram uns aos outros na Comissão Conjunta [do JCPOA]. As negociações mal começaram. Aquilo que disseram os iranianos, nós [russos] ou os americanos, não são as últimas palavras. Ninguém prometeu que seria fácil", explicou Mikhail Ulyanov.
O Irã endureceu sua posição nesta última rodada de negociações, se afastando dos compromissos previamente assumidos e fazendo novas exigências, de acordo com um funcionário sênior do Departamento de Estado dos EUA.
O diplomata chamou as tentativas do Irã de forçar o programa nuclear de "especialmente provocadoras".
"Penso que eles acreditam que podem acumular grandes quantidades de urânio enriquecido e criar mais centrífugas, e assim extrair de nós mais concessões, e eles próprios fazerem menos. Esta tática de negociações
não vai funcionar", declarou.
Após o assinar em 2015 com Irã e outros países, o país norte-americano deixou o JCPOA em 2018 sob a administração Trump, e reimpôs sanções a Teerã, levando o último a abandonar gradualmente os termos do acordo a partir de 2019. A entrada no poder nos EUA de Joe Biden em 2021 não alterou muito a dinâmica, com Washington impondo mais sanções do que retirando ao longo deste ano, apesar da disponibilidade de voltar ao acordo nuclear.