"É uma nítida piora, desde 2015, 2016, com o aumento dos indicadores de pobreza, derivado de um início de crise econômica e do aumento de desemprego", apontou Recine, em entrevista à Sputnik Brasil.
"As famílias estão tentando equilibrar sua alimentação em níveis mínimos, com uma mínima constância, dependendo de um orçamento que vem de um trabalho informal. Na semana em que não conseguem, saem da [insegurança alimentar] moderada para a grave", disse Recine.
"Dependendo da extensão e da duração dessa situação de fome, há consequências que vão comprometer o restante da vida da pessoa. Para o adolescente, compromete o desenvolvimento. Para o adulto, compromete seu cotidiano, suas condições de organizar a vida, de ter uma saúde mental para lidar com os desafios desse momento", disse Recine.
SUS e 'desmonte das políticas públicas'
"É importante que a Saúde consiga se articular com essas ações de assistência social no nível do território. O que estamos testemunhando hoje nas unidades básicas são os profissionais de saúde se sentindo quase que impotentes diante do nível de fragilidade com que as pessoas estão chegando às unidades, seja por problemas físicos ou de saúde mental", explicou.
"Muitas das medidas de desmonte das políticas públicas ocorrem no nível do Executivo, mas muitas delas precisam da ação do Legislativo. E, infelizmente, o Legislativo tem contribuído muito com o desmonte de políticas públicas, alterando a estrutura dos programas, o orçamento, também aprovando projetos de lei que colocam em risco a posse da terra de povos e comunidades tradicionais e não aprovando medidas de apoio à agricultura familiar", elencou ela.
"As políticas precisam ter uma perspectiva de interseccionalidade, porque se engana quem pensa que a fome e a pobreza são homogêneas. Elas têm cores mais dramáticas em vários grupos da nossa população", afirmou.