A primeira nova base da Marinha dos EUA em quase 70 anos, está surgindo ao lado de uma estrada que corta a densa selva de Guam.
O acampamento base do Corpo de Fuzileiros Navais em Blaz, a ser inaugurado formalmente em uma cerimônia no início do próximo ano, é o mais recente sinal de que Guam, um posto avançado dos Estados Unidos no Oceano Pacífico, está se tornando mais crucial para planejadores militares com foco na Ásia, segundo matéria do The Wall Street Journal (WSJ).
A ilha, que já abriga bases da Força Aérea e da Marinha, seria um importante ponto de partida para bombardeiros, submarinos e tropas em qualquer conflito envolvendo os EUA no Pacífico, incluindo qualquer confronto sobre Taiwan se os EUA se tornassem envolvidos, dizem os oficiais militares norte-americanos.
Ao mesmo tempo, a China, que tem expandido suas capacidades militares, torna a ilha vulnerável, segundo as autoridades americanas.
Ilha Guam fotografada a partir do espaço pelo cosmonauta russo Anton Shkaplerov
© Foto / Roscosmos/Anton Shkaplerov
Cerca de seis anos atrás, a China revelou um novo míssil, descrito por analistas de defesa dos EUA como o "Guam Killer", que poderia atingir a ilha do tamanho de Chicago a cerca de 2.400 quilômetros a leste das Filipinas. Desde então, o estoque da China cresceu de algumas dezenas para cerca de 300, de acordo com uma estimativa recente do Pentágono.
Em um vídeo de propaganda no ano passado, a China mostrou um ataque simulado a Guam, com música dramática e explosões em câmera lenta.
O Ministério das Relações Exteriores da China encaminhou um pedido de comentário ao Ministério da Defesa Nacional da China, que não respondeu.
Para proteger os cerca de 150.000 civis americanos no território os líderes militares dos EUA estão buscando centenas de milhões de dólares para adicionar mais hardware para Guam destruir mísseis que se aproximem. O Pentágono destacou a importância de Guam e prometeu atualizar sua base aérea e outros ativos na ilha.
"Vai custar dinheiro, claro, mas as pessoas aqui são cidadãos dos Estados Unidos. Este é um território soberano dos Estados Unidos e queremos ter certeza de que as pessoas aqui nesta região sejam protegidas", disse o contra-almirante Ben Nicholson, comandante das forças dos EUA em Guam e nas ilhas vizinhas.
Uma das principais preocupações de segurança de Washington é um aumento na produção de armamentos chineses o que faz com que autoridades americanas identifiquem uma ameaça de mísseis da China a Guam. A recente avaliação anual do Pentágono sobre as capacidades militares da China citou a produção acelerada de navios militares, aviões e armas nucleares. Autoridades americanas afirmam que o gigante asiático testou dois mísseis hipersônicos, incluindo um que disparou um projétil adicional perto de seu alvo, demonstrando tecnologia inovadora ainda não testada por outro país.
Embora Pequim ainda não tenha se comprometido de forma oficial, o presidente Biden apelou ao presidente Xi Jinping para o estabelecimento de diálogos sobre controle de armas.
Segundo analistas e especialistas militares, a China estaria tentando criar dificuldades para operações, quer dos EUA, quer de seus aliados no Pacífico ocidental. Deste modo, ficaria difícil intervir em qualquer conflito no qual a China esteja envolvida, incluindo um possível conflito para reintegração de Taiwan.
Embora os EUA não tenham afirmado que interviriam no caso de um conflito com Taiwan, muitos estrategistas militares acreditam ser possível.
Outros potenciais pontos problemáticos na região incluem o mar do Sul da China, onde a China expandiu as operações militares em áreas disputadas.
Guam seria especialmente importante em qualquer conflito potencial, em parte porque a base da Força Aérea Andersen, que ocupa grande parte da ala norte da ilha, é a única base dos EUA no oeste do Pacífico capaz de hospedar bombardeiros pesados por longos períodos. Os submarinos que saem da base da Marinha de Guam podem mergulhar rapidamente em águas profundas para diminuir as chances de detecção.
Os militares dos EUA também têm muito mais liberdade em termos de quando e onde podem treinar em Guam que em outros grandes postos avançados dos EUA na Ásia, como Japão e Coreia do Sul.
Guam é controlado pelos EUA desde o final do século XIX, exceto por alguns anos quando o Japão ocupou a ilha após seu ataque a Pearl Harbor. Os fuzileiros navais dos EUA retomaram a ilha e a usaram como um importante centro militar e centro de abastecimento nos estágios finais da guerra. Atualmente, pouco mais de um quarto de suas terras é propriedade do Departamento de Defesa dos EUA, com cerca de 22.000 soldados instalados.
A importância de Guam
"Guam desempenha um papel independente de onde as operações possam ocorrer ou quem sejam os adversários", disse o contra-almirante Nicholson.
Os EUA têm expandido gradualmente sua presença em Guam na última década. Em 2013, os EUA moveram um sistema para derrubar mísseis balísticos conhecido como Thaad (sigla em inglês para Terminal de defesa de área de alta altitude), para Guam, depois que a Coreia do Norte ameaçou disparar mísseis contra a ilha.
A nova base da Marinha está programada para receber a transferência de cerca de 5.000, dos 50.000 soldados de Okinawa a partir de meados da década, como parte das promessas de Washington de reduzir os níveis de tropas no Japão.
Com as expansões, no entanto, vem mais ansiedade sobre o futuro de Guam.
Quando Pequim revelou pela primeira vez seu míssil Dong Feng-26, que pode atingir Guam, as autoridades americanas estavam confiantes de que as ameaças de mísseis à ilha poderiam ser interrompidas por Thaad.
"Guam está muito bem protegido", disse o general John Hyten em 2017, enquanto chefe do comando estratégico dos EUA.
Entretanto, em recente avaliação anual do Pentágono, sobre as capacidades militares da China, além de Pequim ter quase triplicado os mísseis DF-26, o que representa risco de sobrecarga das defesas de Guam, pela primeira vez um míssil poderia ser usado para lançar cargas nucleares de baixo rendimento.
"Nós somos um alvo. É assim que funciona", disse o governador de Guam, Lou Leon Guerrero. "É muito desesperador."
O objetivo dos militares dos EUA é criar camadas de proteção para Guam. O exército testou recentemente o sistema Iron Dome construído por israelenses em Guam como uma opção para conter mísseis de cruzeiro.
Líderes militares dizem que a introdução de algo semelhante ao sistema Aegis, baseado em navios, é necessária para fornecer defesas adicionais contra mísseis balísticos, mas eles não estabeleceram uma proposta clara.
O Congresso adiou a aprovação da maior parte do pedido, dizendo que é necessária mais clareza em como o dinheiro seria gasto.
O general brigadeiro Mark Holler, comandante do Exército norte-americano de defesa para a região da Ásia-Pacífico, disse que outros sistemas de defesa antimísseis existentes, como baterias Patriot na região do Pacífico, poderiam ser transferidos para Guam durante a noite em uma crise, mas recursos adicionais seriam necessários para o ilha.
Uma preocupação central é como garantir que qualquer novo sistema seja eficaz contra os avanços nas ameaças de mísseis chineses. O rápido progresso técnico de Pequim tornou isso mais desafiador.
A Agência de Defesa de Mísseis apresentou um relatório sobre opções, atualmente sob análise do Pentágono.