A descrição do canal RT DE, a RT da Alemanha, como um "irritante" que deve ser eliminado, demonstra ignorância sobre o papel dos jornalistas de expor as pessoas que estão no poder, afirmou Chris Hedges, jornalista dos EUA, em declarações à RT.
"É claro" que a decisão dos reguladores alemães contra a mídia é política, disse Hedges, vencedor do Prêmio Pulitzer. Ele relatou ter se rido com a afirmação de Tobias Schmid, atual presidente do Grupo de Reguladores Europeus dos Serviços de Comunicação Audiovisual (ERGA, na sigla em inglês), que chamou a RT DE de "incômoda" e "irritante", contra a qual é necessário fazer alguma coisa. Segundo Hedges, isso mostra o "quão ingênuo e surdo ele era sobre o papel do jornalismo".
"Devemos sempre ter uma relação adversária com o poder. O jornalismo é isso", sublinhou o repórter norte-americano.
Hedges comparou a ação à interferência dos EUA com a atividade da RT América e sua remoção dos canais a cabo após o relatório de 2017, feito por espiões norte-americanos, que "atacou a RT por dar voz a candidatos de terceiros partidos, ativistas antifracking, Black Lives Matter".
O jornalista dos EUA também referiu o tratamento dado a Julian Assange, fundador do WikiLeaks, apontando que sua própria cobertura da prisão e extradição do ativista australiano foi suprimida pelas redes sociais.
Controvérsia na Alemanha
Chris Hedges trabalhou por 15 anos no jornal New York Times e venceu em 2002 o Prêmio Pulitzer por sua cobertura da guerra contra o terrorismo. Ele deixou a mídia em 2005 após criticar a invasão do Iraque pelos EUA e trabalha atualmente na RT.
A RT DE começou a transmitir na quinta-feira (16) em língua alemã a partir de Moscou via Sérvia, e a emissão foi bloqueada apenas horas depois no YouTube, apesar de continuar transmitindo por televisão. Autoridades em Berlim-Brandemburgo apresentaram na sexta-feira (17) uma queixa em tribunal, alegando que a empresa RT DE Productions, com sede em Berlim, era uma emissora que precisava ter licença alemã.
A RT, por sua vez, indicou que a empresa só produz conteúdo, e que a transmissão via satélite através da Sérvia é totalmente legal e apropriada sob a Convenção Europeia de Televisão Transfronteiriça (ECTT, na sigla em inglês), que a Alemanha assinou e ratificou.