Mega da Virada: é possível levar os R$ 350 milhões para casa e ainda ir à falência?
17:31, 29 de dezembro 2021
A esperança de mudar de vida do dia para noite é anualmente alimentada pelo último sorteio das lotéricas no ano. Com a ajuda de dois especialistas, a Sputnik Brasil foi descobrir se é possível levar os R$ 350 milhões para casa e ainda ir à falência.
SputnikCom a chegada do fim do ano, a Mega da Virada, que sorteará R$ 350 milhões, é a última esperança para os brasileiros ingressarem em 2022 como os mais novos milionários do país.
Embora R$ 350 milhões pareça uma quantia interminável de dinheiro, há casos de pessoas no Brasil que ganharam quantias exorbitantes e depois perderam tudo. A educação financeira é assim: só nos importamos com ela quando
enfim reconhecemos que estamos perdendo dinheiro.
Para Leonardo Trevisan, professor da ESPM ouvido pela Sputnik Brasil, existe uma razão pela qual as pessoas apostam em loterias: e é justamente "porque elas têm carências em torno de sua educação financeira". O professor explicou que uma pesquisa da Universidade de Oxford, no Reino Unido, resumiu essa análise.
O estudo mostrou que toda pessoa que ganha mais de 20 mil libras mensais (pouco mais de R$ 153 mil), ganha uma quantia que atende tudo o que ela quer fazer. Isso, porém, "não garante felicidade. Quando você faz tudo o que você quer, resta um vazio sobre as suas pretensões". O professor apontou que "existe um teto para a felicidade".
Por que educação financeira é tão importante?
Mas por que, então, a educação financeira é tão importante? Muitos acreditam que uma boa educação financeira serve para gerar riqueza e milhões de reais em suas contas. Esse é o engano. "O objetivo da educação financeira é poder encurtar o caminho para a felicidade", disse o professor.
Parece algo simples, mas esse é o ponto para determinar quais sonhos realmente valem a pena. Trevisan também destaca que alguns núcleos educacionais no país e algumas áreas do governo federal estão se preocupando com o tema. E, segundo, não é o tamanho do salário que define quem tem maior educação financeira.
"O que faz com que a pessoa gaste bem o que ganha é a educação. E isso significa ter racionalidade e principalmente imaginar que o amanhã também tem custo. Nós temos que entender, de algum modo, que os gastos têm um limite", comentou.
Tratando-se de Mega da Virada e dos valores envolvidos, o brasileiro parece desconhecer os limites para a "gastança" de dinheiro. Sempre às vésperas do sorteio, as redes sociais são inundadas de publicações e piadas com comentários sobre como gastar o prêmio sorteado.
Algumas publicações remontam à história de Antônio Domingos, que ganhou
R$ 30 milhões na loteria e viveu como se não houvesse amanhã, e invariavelmente é
relembrada nesta época do ano por alguns canais de televisão no Brasil. Antônio Domingos foi morar em um hotel de luxo, gastou o que não podia em festas, e, atualmente, sobrevive como flanelinha.
Brasileiros milionários que perderam tudo
As histórias são muitas. Em 1983, uma loteria no estado do Amapá
entregou um prêmio de
dois milhões de reais para Jesus da Silva Fonseca. O vendedor de picolé não investiu seu prêmio. Quando viu que seu dinheiro já estava no fim, precisou voltar a trabalhar como antes. O dinheiro foi usado em viagens, festas e até mesmo em um encontro para conhecer a atriz Rita Cadillac.
Outro
caso emblemático é o de Cida Santos, da quarta edição do BBB (programa de televisão no Brasil). Não exatamente uma milionária, Cida foi a vencedora do reality show em 2004 e levou para casa prêmios e contratos de publicidade que somavam quase
R$ 700 mil. O dinheiro, no entanto, acabou após ser emprestado para amigos e investido em uma casa no bairro do Recreio, no Rio de Janeiro.
Há outros casos que também
são conhecidos: Antônio Donizeti, em 1977, ganhou
R$ 6,3 milhões, mas o montante foi consumido em apenas três anos, com empréstimos feitos a amigos e familiares que nunca o pagaram. Já Nivaldo dos Santos, em 1972, gastou seu prêmio (também de cerca de
R$ 6 milhões) com extravagâncias, como fretar aviões e levar amigos para assistir partidas de futebol pelo Brasil.
Finalmente, um dos casos mais conhecidos no país: o do catador de latinhas Alvino Ferreira. Em 1971, Alvino
fez uma única aposta e embolsou
meio milhão de reais, quantia alta para época. Em seis anos, a fortuna havia sido gasta após maus
empreendimentos e projetos que não prosperaram. Ao perder tudo, ele foi obrigado a voltar a trabalhar como catador de latinhas.
A palavra-chave é... Investimento
Em comentário enviado à Sputnik Brasil, Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), afirmou que "embora a situação seja de euforia [após uma vitória no sorteio], é preciso cautela".
"Há pessoas que se tornam viciadas em apostar, o que, ao invés de ajudar, atrapalha, e muito, as finanças pessoais. Acreditem, observei pessoas apostando muito mais do que mil reais em apenas um dia. Depois, se não ganhar, fica difícil pagar essa conta", analisou.
Para ele, "o valor [sorteado pela Caixa neste ano] é tão grande que poderá garantir uma vida muito boa por várias gerações, se o felizardo tiver educação financeira". Porém, segundo Reinaldo Domingos, alertas são necessários.
"Pessoas perderam milhões, pois não respeitaram o dinheiro que ganharam, distribuindo dinheiro descontroladamente e gastando sem controle", enfatizou.
Tanto Reinaldo quanto Leonardo Trevisan entendem que investir o prêmio é o melhor caminho para continuar milionário. O professor da EPSM disse que "se você fizer com um investimento clássico, mais comum, como a poupança, que rende 0,5% por mês, isso significa que o feliz ganhador desse dinheiro retirará do banco, todos os meses, R$ 1,75 milhão".
"A dificuldade maior é a estatística, que é a impossibilidade de que qualquer um acerte esses seis números sozinho. A possibilidade é de um para 50 milhões. Esses R$ 350 milhões representam 8,5% do que o orçamento de 2022 destinará para a educação do país. Isso deveria ser uma reflexão para nós, como sociedade", pontuou.
Prudência e diversificação
Questionado sobre
o melhor destino para a alocação do prêmio da Mega da Virada, Leonardo Trevisan disse que, "com toda a certeza , a palavra-chave para qualquer investimento é a
diversificação. Não coloque todos os ovos na mesma cesta. Com educação financeira, nós entendemos a diferença entre uma poupança e um CDB.
"Temos que pensar em diversificar os investimentos, entre conservadores, moderados e arrojados. O mais conservador normalmente é pré-fixado, como a poupança e o CDB. Os investimentos pós-fixados são em fundos. Os mais arrojados são as ações. Eu recomendaria 40% em conservador, 40% em moderado, e 20% nos arrojados", concluiu.