Elon Musk, empreendedor e bilionário norte-americano, rejeitou em declarações publicadas na quarta-feira (29) no jornal Financial Times (FT) que o lançamento de satélites orbitais Starlink de sua empresa SpaceX seja um impedimento a outros programas espaciais.
Em 5 de dezembro de 2021, Josef Aschbacher, diretor da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), se queixou também ao FT de que a empresa de Musk estava "decidindo as regras" na economia espacial comercial emergente, e que isso reduziria as frequências de rádio e o espaço orbital disponível para outras empresas.
Mais recentemente, na segunda-feira (27), a China protestou em nota diplomática à ONU contra os satélites da SpaceX, dizendo que eles quase se chocaram no início de dezembro com a Estação Espacial da China, a Tiangong.
No entanto, o empresário dos EUA crê que as críticas são exageradas.
"Esta não é alguma situação em que estejamos efetivamente bloqueando outros. Não bloqueamos ninguém de fazer alguma coisa, nem o esperamos fazer", retrucou Musk no mais recente artigo
Ele defendeu que o espaço é "simplesmente gigantesco" e que os satélites que tem enviado "são muito pequenos", pelo que o problema não é tão importante como poderia parecer.
A SpaceX lançou até agora cerca de 2.000 satélites para sua rede de banda larga Starlink, e planeja aumentar seu número na órbita da Terra em mais dezenas de milhares. O diretor executivo da empresa espacial comparou esse número aos "dois bilhões de carros e caminhões" que existem na Terra, e avaliou que cada camada orbital é maior do que a superfície de nosso planeta, havendo ainda uma nova camada em cada dez metros de altitude no espaço.
"Isso sugere espaço para dezenas de bilhões de satélites. Uns poucos milhares de satélites não é nada. É como, olhe, ter uns poucos milhares de carros na Terra – não é nada", raciocinou.
Opinião de especialistas
No entanto, Jonathan McDowell, astrofísico do Centro Harvard-Smithsoniano de Astrofísica, questiona que os números de satélites no espaço e de veículos na Terra sejam equiparáveis, referindo que a velocidade superior a 27.000 km/h dos primeiros reduz muito seu espaço de manobra. Com apenas três segundos para se desviar, cada camada orbital permitiria um máximo de apenas 1.000 satélites simultâneos, calculou ele.
O cientista também afirmou que a dificuldade de calcular as trajetórias de tantos satélites, além de variações no clima solar, tornam muito difícil prever colisões potenciais senão pouco tempo antes de acontecerem, o que significa que o espaço "já está demasiado ocupado".
Ao mesmo tempo, Laura Forczyk, analista espacial da Astralytical, empresa de consultoria espacial, concorda com Musk que se trata de um problema de gestão de tráfego, e por isso recomenda maior cooperação internacional para decidir "como o espaço orbital deve ser distribuído, e [como] o tráfego espacial [deve ser] gerido".