Panorama internacional

Venezuela desprende equipamento militar após escalada de violência na fronteira com Colômbia

O governo colombiano anunciou que enviará dois batalhões ao departamento de Arauca, onde 23 pessoas foram mortas.
Sputnik
O governo venezuelano anunciou que vai desprender suas forças militares e responderá "energicamente a qualquer agressão" à sua soberania, depois que a Colômbia o acusou de fornecer proteção a grupos armados ilegais que estariam relacionados com o assassinato de 23 pessoas em vários municípios fronteiriços do departamento colombiano de Arauca, no fim de semana passado.
Foi relatado o deslocamento de dois batalhões de Bogotá para a área de fronteira, segundo o presidente Iván Duque. Tanto o presidente quanto seu ministro da Defesa, Diego Molano, referiram-se à suposta conexão entre Caracas e os fatos ocorridos nos municípios colombianos de Arauquita, Tame, Fortul e Saravena, apesar de já em 2019 a Defensoria do Povo da Colômbia ter emitido um alerta precoce para a violência "estrutural" na área.
Em menos de 24 horas, mais de 20 pessoas foram assassinadas e pelo menos 12 famílias tiveram que ser deslocadas à força. Em um primeiro comunicado, o Exército colombiano atribuiu o ocorrido ao confronto entre a Frente de Guerra Oriental do Exército de Libertação Nacional (ELN) e os dissidentes das extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) pelo "controle das economias ilícitas".

A 'proteção' de Maduro

Ao final de uma reunião de segurança na cidade de Cartagena, o presidente colombiano disse que havia instruído Molano a aumentar "a capacidade da Força Pública" em Arauca e ordenado o deslocamento nas próximas 72 horas de dois batalhões "para apoiar o controle territorial".
Duque afirmou que fortaleceria a "inteligência e contrainteligência" em Arauca, que ampliaria "a capacidade de supervisão aerotransportada e de helicópteros" e que usaria drones para patrulhar a área.
Mais uma vez, é mostrado como atos criminosos do outro lado da fronteira afetam a tranquilidade na Colômbia. A ação penal que deixou 23 mortos começou devido à disputa que se trava na Venezuela entre a aliança ELN [Exército de Libertação Nacional] e a Segunda Marquetalia [grupo dissidente das FARC liderado por Iván Márquez, um fugitivo da Justiça colombiana] contra dissidentes das FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia]
Este reforço da vigilância estava relacionado à sua alegação sustentada da suposta proteção de Caracas aos grupos armados ilegais colombianos, sem que seu governo tenha apresentado provas a respeito. Essas ações, segundo Duque, têm o objetivo de monitorar os pontos em que supostamente atuam.
"A mensagem é clara: vamos enfrentá-los como temos feito até agora, com total contundência no território, e também estaremos denunciando o conluio e a proteção que o governo ditatorial de Nicolás Maduro tem proporcionado a essas estruturas criminosas", acrescentou o presidente colombiano.
O Ministro da Defesa afirmou em um tweet que foi mais uma vez demonstrado "como os atos criminosos do outro lado da fronteira afetam a tranquilidade na Colômbia" e afirmou que a disputa entre organizações ilegais, que causou a morte de 23 pessoas, "está ocorrendo na Venezuela entre a aliança do ELN e a Segunda Marquetalia contra os dissidentes das FARC".
Panorama internacional
Continua 'a espoliação descarada dos recursos' da Venezuela, diz MRE após EUA apoiarem Guaidó

Venezuela 'aumenta nível de alerta'

Em uma série de declarações, o chefe da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, rejeitou as acusações da Colômbia e informou que as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) estão localizadas nos municípios venezuelanos do estado de Apure, vizinhos ao departamento de Arauca, e que "elevou seu nível de alerta aos acontecimentos do outro lado da fronteira para proteger o povo e responder com força a qualquer agressão" à soberania de seu país.
Alerta para falsos positivos. Após violentos eventos ocorridos em território colombiano, FANB continua patrulhando os municípios fronteiriços do estado de Apure, protegendo a Soberania contra qualquer interferência que busque minar a paz de nosso povo.
Em seus tweets, Padrino López se perguntou quais foram as razões pelas quais Bogotá mais uma vez acusou a Venezuela de estar por trás das ações violentas, sem apresentar apoio a essas afirmações.
De novo? Duque, o pior presidente da Colômbia, cria 'forças de elite', envia batalhões para a fronteira, ordena operações aerotransportadas, desdobra drones, etc; ao emitir um relatório em panfleto para disfarçar uma realidade que hoje é palpável em Arauca
Em sua opinião, "continuar apontando a violência na Venezuela", que se estende por décadas na Colômbia, não exonera a classe política dominante daquele país "até que a tortilha seja devolvida e a oligarquia colombiana seja substituída por um governo de compromisso social".

Qual é a situação em Arauca?

Em seu relatório mais recente, a defensoria informou que, até o momento, 23 pessoas foram mortas "em consequência do confronto entre grupos armados ilegais com presença naquela região". Desse número, 17 corpos estão no necrotério de Saravena e seis em Tame.
Até agora, 12 famílias foram deslocadas à força (seis em Saravena e outras seis em Tame). O defensor público, Carlos Camargo, lembrou em tweet que o órgão que dirige emitiu a advertência 029, em 2019, para alertar sobre os homicídios em Tame, Fortul, Saravena e Arauquita, além do "risco de ameaças e detenções ilegais, recrutamento de crianças e adolescentes e deslocamento forçado".
1/2 Da amostra Regional de Arauca ficamos sabendo que o número de mortos no fim de semana sobe para 23, em consequência do confronto entre grupos armados ilegais com presença naquela região. 17 corpos estão no necrotério de Saravena e seis em Tame.
A situação de maior tensão na área de fronteira entre os dois países foi vivida em Apure, na fronteira com Arauca, entre março e abril de 2021, quando ocorreram vários combates entre o Exército venezuelano e grupos irregulares colombianos, que deixaram baixas em ambos os lados e um grupo de deslocados que cruzou para Arauquita. Na ocasião, Caracas sinalizou para a Colômbia "exportar" o paramilitarismo para seu território.
A tensão gerada entre os dois países após os confrontos na área de fronteira com a Venezuela ocorre cinco dias após a repetição das eleições para governador do estado de Barinas, a cerca de duas horas de Arauquita e na fronteira com Apure.
Embora em 2021 tenham ocorrido vários atos de violência em Arauca, a hostilidade na área é antiga. Em publicação da ONG colombiana Crudo Transparente, afirma-se que ali, como em outras regiões do país, "houve um sério e prolongado conflito armado", caracterizado pela disputa pelo "controle das receitas do petróleo" entre grupos ilegais, redes organizadas e de corrupção, desde a década de 1980. No entanto, embora este fosse o "objetivo inicial", o acesso aos recursos naturais é "um meio que lhes permite perpetuar, prosperar e expandir-se territorialmente".
Comentar