Essa é a principal conclusão da recente análise conduzida pelo Instituto Nacional para Doenças Infecciosas Lazzaro Spallanzani, na Itália, pelo Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya e pela Universidade Estatal de Medicina Sechenov, em Moscou.
Dados anteriores já sugeriam maior eficácia da vacina russa Sputnik V contra a variante Ômicron, com estudos também apontando ao declínio menor e mais lento dos níveis de anticorpos para a vacina russa, em comparação com outros imunizantes.
Os pesquisadores compararam a vacina Sputnik V com o imunizante mRNA da Pfizer-BioNTech em pesquisa comparativa de pré-impressão publicada no portal MedRxiv. O objetivo era estudar a eficácia de ambas as vacinas contra a recém-detectada cepa Ômicron.
A análise foi feita por 12 cientistas italianos de um laboratório em Roma com utilização de amostras de soro sanguíneo de pessoas vacinadas com os respectivos imunizantes e que tinham níveis semelhantes de anticorpos tipo IgG, bem como a mesma atividade neutralizante contra a variante original do coronavírus detectada primeiramente em Wuhan.
Foi revelado que, em comparação com a vacina da Pfizer, a Sputnik V tem 2,1 vezes mais anticorpos neutralizantes contra a Ômicron em geral e 2,6 vezes mais anticorpos três meses após a vacinação.
Títulos de anticorpos neutralizantes contra a estipre Ômicron
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Em sua análise detalhada dos mecanismos de proteção, os autores do estudo notaram que a Sputnik V neutraliza a variante Ômicron porque ela fornece uma resposta imune mais forte devido à alta taxa de anticorpos. Revisando o nível básico dos anticorpos IgG específicos ao RBD (domínio de ligação ao receptor), os pesquisadores afirmam que, nos 25% superiores das amostras com teores mais elevados de IgG, 100% dos indivíduos imunizados com a Sputnik V possuem esses anticorpos, em comparação com 83,3% no grupo com a Pfizer. No total, 74,2% das amostras de soro sanguíneo com a Sputnik V neutralizaram a Ômicron com sucesso, em comparação com 56,9% para a Pfizer.
Porsentagem de amostras de soro sanguíneo
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Quanto às razões porque a Sputnik V forma tal resposta forte à Ômicron, há vários fatores explicativos, entre eles a produção de um espectro muito mais amplo de anticorpos neutralizantes, enquanto a vacina da Pfizer utiliza a proteína S em forma estabilizada destinada contra partes específicas das moléculas do antígeno, que, no caso da Ômicron, são geralmente deformadas por mutações do vírus.
A tecnologia heteróloga para a dose de reforço da Sputnik V também faz sua contribuição, com a vacina russa usando dois diferentes vetores de adenovírus, tendo a plataforma de vetor adenoviral humano uma vantagem adicional de melhor imitação de infecção. A publicação Spallanzani-Gamaleya menciona essa tecnologia como a mais eficaz:
"Hoje a necessidade da terceira vacinação, com dose de reforço, é óbvia. E a abordagem mais eficaz, já demonstrada em diversos estudos, é o uso da vacinação de reforço heteróloga, com a Sputnik V sendo pioneira nisso entre vacinas anti-COVID-19."
A pesquisa conjunta russo-italiana também confirma os resultados recentes do Instituto Gamaleya, publicados pelo MedRxiv em dezembro de 2021. De acordo com o documento, a Sputnik V tem alta atividade neutralizante do vírus contra a variante Ômicron.
Dose de reforço universal
A disseminação preocupante da variante Delta seguida pelo surto da Ômicron levou a comunidade científica global às buscas da perfeita vacina de reforço. O Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo) ofereceu como resposta a vacina Sputnik Light.
A Sputnik Light é uma vacina de uma única dose baseada no adenovírus recombinante humano do sorotipo 26 (Ad26), também usado como primeiro componente da Sputnik V.
Dados de estudos clínicos na Argentina e outros países demonstraram a alta segurança e imunogenicidade da Sputnik Light como dose de reforço também para vacinas de outros fabricantes. Sua eficácia como reforço contra a variante Delta aproxima-se da eficácia contra ela para as duas doses da Sputnik V: mais de 83% contra a infecção e 94% contra a hospitalização, segundo relatório do RFPI.
O diretor-geral do fundo, Kirill Dmitriev, ressaltou a importância de aplicação da Sputnik Light como reforço:
"A plataforma de vetor adenoviral já mostrou alta eficácia no combate às mutações do coronavírus no passado. O reforço misto com uso da Sputnik Light poderia aumentar a eficácia de outras vacinas e a parceria entre várias plataformas de vacinas desempenha um papel-chave ante os desafios criados pela presença simultânea das variantes Delta e Ômicron".
Primeira vacina contra COVID-19 registrada no mundo
A Sputnik V é autorizada para uso em 71 países com população total de quatro bilhões de pessoas, com a Austrália virando a última nação que reconheceu a vacina russa. A Sputnik Light é aprovada em 30 países.
Ambas as vacinas foram desenvolvidas na base da tecnologia de vetores adenovirais que tem uma história de 30 anos e que comprovou sua segurança e eficácia. Ao contrário de outras tecnologias, a plataforma de vírus adenoviral não esteve relacionada com efeitos colaterais graves, tais como pericardite ou miocardite.
O RFPI é o fundo soberano do país, estabelecido para realizar investimentos, principalmente na Rússia, ao lado de investidores internacionais. O fundo é responsável pela produção e distribuição internacional das vacinas russas Sputnik V e Sputnik Light.
A variante Ômicron do SARS-CoV-2 foi identificada em novembro de 2021 e rapidamente se tornou a cepa dominante em todo o mundo. Em 12 de janeiro de 2022, essa cepa foi registrada já em 150 países.