Recentemente, o papa Francisco tem mencionado muito o Brasil, e o padre Luís Corrêa Lima explica como a comunidade católica em geral tem recebido suas falas.
De acordo com o padre, em alguns pontos parece que o papa Francisco possui mais seguidores fora da Igreja Católica do que dentro, contudo, a visão geral de suas falas é positiva na comunidade católica.
Alguns assuntos, como os relacionados ao meio-ambiente, fake news, questões sociais, relações multilaterais, vacinação contra COVID-19 e crise da democracia, têm mais repercussão em alguns segmentos da Igreja, bem como fora dela, ressalta o padre.
Polêmica no Brasil
Em maio de 2021, houve a polêmica envolvendo o padre João Paulo, de Campina Grande, que pediu ao papa para que orasse pelos brasileiros. Na ocasião, o papa Francisco respondeu: "Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração".
Apesar de a fala ter sido em tom de brincadeira, o padre Luís Corrêa Lima afirmou que muitas pessoas ficaram ofendidas, pois acharam que foi uma declaração exagerada. Mas, para o padre, a fala foi apenas uma piada que não teve caráter ofensivo.
Influência da 'política evangélica' na perda de fiéis na Igreja Católica
O padre Luís Corrêa Lima também explica se a aproximação da política brasileira, cada vez maior ao lado dos evangélicos, estaria reduzindo a influência católica na população brasileira.
Para o padre, há um forte crescimento do protestantismo pentecostal e neopentecostal.
"Evidentemente, é uma coisa preocupante, mas a Igreja Católica institucionalmente tem uma postura diferente em relação às religiões não cristãs e às religiões não católicas desde o Vaticano II [...] quando passou a reconhecer valores nos cristãos não católicos, inclusive a possibilidade de salvação, e valores nas religiões não cristãs", explicou o padre, ressaltando que hoje há um diálogo entre as religiões, havendo uma liberdade religiosa.
Contudo, o padre diz estar preocupado com o protestantismo que cresce no Brasil, pois em grande parte é fundamentalista, sectário e exorcista.
"É um segmento muito complexo, é uma constelação o mundo protestante, que tem, inclusive, uma questão política complexa [...]", afirmou o padre Luís Corrêa Lima, ressaltando que na última eleição metade dos católicos votaram no Bolsonaro, enquanto 70% dos protestantes votaram no atual presidente brasileiro.
Ele também afirma ser preocupante uma certa confessionalização do Estado brasileiro.
"Nós não precisamos ter um ministro do Supremo Tribunal Federal terrivelmente evangélico, católico, judeu ou qualquer que seja [...]", declarou, ressaltando que é preciso um ministro que cumpra a Constituição e que tenha valores jurídicos e de cidadania.
Apesar de tudo o que está ocorrendo, o padre afirma não ver atualmente, na Igreja Católica, um movimento antiprotestante, mas é uma preocupação a ascensão da intolerância religiosa.
Expulsão dos pentecostais de Angola e Alemanha
Em 2021, os pastores pentecostais da Universal foram expulsos de Angola. A Alemanha também não permitiu a abertura da Universal no país.
Comentando o assunto, o padre Luís afirma que, no caso da Alemanha, o país, que tem uma liberdade religiosa, pode ter encontrado alguma razão de outro tipo, como o apelo à teologia da prosperidade, que pode ter sido visto como charlatanismo, uma corrupção do cristianismo, que é uma espécie de venda de uma falsa esperança, "reduzindo Deus a um quebra-galho".
Para evitar esta "corrupção do cristianismo" é preciso instruir as pessoas, para que sejam capazes de avaliar criticamente este tipo de propaganda e para que notem o quanto isso é infundado e ilusório.
Ministro terrivelmente evangélico e slogan político de Bolsonaro
Comentando as cenas da celebração do ministro terrivelmente evangélico e o slogan político de Bolsonaro, "Deus acima de tudo e todos", o padre Luís observa que estas atitudes podem ser uma resistência à modernidade, ao pluralismo, à laicidade, pela manutenção de um modelo tradicional de família, que é um grande apelo dessa propaganda.
"Parece-me que há uma rejeição à modernidade e alguns de seus elementos que faz com que esses segmentos tenham força [...]", afirmou.
O padre observa que o pluralismo ideológico, a liberdade de expressão, a emergência de novas configurações familiares faz com que as pessoas se sintam ameaçadas e parece com que o mundo fosse acabar, havendo um pânico moral, fazendo com que as pessoas migrem suas preferências políticas para estes segmentos conservadores.
Capitalização de jovens à religião e manutenção da fé católica no Brasil
Falando sobre a capitalização do potencial para agregar mais jovens à religião e manter a fé católica, principalmente no Brasil, o padre Luís destaca que o papa sabe se comunicar muito bem, fazendo uma síntese entre o espiritual e o cotidiano, coletivo e material.
Dessa forma, o papa evita que a religião se torne algo desencarnada ou algo desconectado do mundo presente.
"No fundo, estão resgatando o Concílio Vaticano II, o diálogo com a sociedade, o diálogo com a modernidade", explicou