A nova doutrina espacial da OTAN expande a Política Espacial de 2019 da aliança, que reconheceu o espaço como um novo "domínio operacional", ao lado do ar, terra, mar e ciberespaço. A partir desta expansão, o bloco promete ajudar a tornar as capacidades espaciais de seus membros compatíveis e interoperáveis.
De acordo com a OTAN, o espaço está se tornando mais "lotado e competitivo", com satélites vulneráveis à interferência de certos países, incluindo a Rússia, China, Irã e Coreia do Norte, que desenvolveram e testaram uma ampla gama de dispositivos contraespaciais e tecnologias ou armas antissatélite (ASAT, na sigla em inglês).
A aliança proclama que ataques no espaço contra seus membros podem levar à invocação do Artigo 5 da OTAN, mas fica aquém de definir o que exatamente constitui um "ataque". Em vez disso, a doutrina diz que as decisões acerca de um fato específico serão tomadas "caso a caso".
"Esta declaração da OTAN é desnecessária e inútil", disse o professor assistente da Universidade da Carolina do Norte dr. Mark Gubrud. "Qualquer 'ataque armado' com sistemas espaciais seria parte de uma guerra maior. Se realmente fosse algo limitado apenas ao espaço, como um laser ofuscante de um satélite, seria difícil entender que alguém quisesse invocar o Artigo 5 para isso".
OTAN divulga sua política espacial. O Comando Espacial dos EUA continuará trabalhando com seus aliados para promover um ambiente espacial seguro, estável, sustentável e protegido
Embora tenha chamado a atenção para países como Rússia e China por implantarem sistemas ASAT, os EUA também são conhecidos por ter amplas capacidades contraespaciais, bem como capacidades cinéticas antissatélite do sistema de mísseis padrão três (SM-3, na sigla em inglês) e do sistema de interceptação de ogivas (GMD, na sigla em inglês).
Em 2008, os EUA realizaram um teste de armas ASAT. Destinava-se a interceptar e destruir um satélite não funcional USA-193 do Escritório Nacional de Reconhecimento (NRO, na sigla em inglês) com um míssil padrão três (SM-3, na sigla em inglês) modificado. Os EUA destruíram o USA-193 em 20 de fevereiro de 2008 sob o pretexto de "salvaguardar vidas humanas", impedindo a reentrada descontrolada do satélite desativado na atmosfera da Terra.
No entanto, quando a Rússia destruiu seu próprio satélite desativado em 15 de novembro de 2021, os EUA condenaram a operação como "um desrespeito deliberado pela segurança, estabilidade e sustentabilidade a longo prazo do domínio espacial para todas as nações".
O Ministério da Defesa da Rússia classificou a declaração de Washington como "hipócrita" e se referiu ao teste pela Força Aérea dos EUA da espaçonave orbital Boeing X-37 como uma indicação clara de que o Pentágono "desenvolve ativamente" armas espaciais.
Ao que tudo indica, a doutrina espacial da OTAN se baseia na estratégia "Visão para 2020" do Comando Espacial dos EUA (USSPACECOM, na sigla em inglês) de 1997, que buscava o domínio contínuo da nação no espaço, sugere o diretor da Rede Global Contra Armas e Energia Nuclear no Espaço, Bruce Gagnon.
"O documento de planejamento do Comando Espacial dos EUA afirma que os EUA 'vão controlar e dominar o espaço e negar o acesso ao espaço a outras nações' [se necessário]", disse Gagnon. "No quartel-general do Comando Espacial, no Colorado, logo acima de sua porta, eles têm uma placa que diz 'Mestre do Espaço'", concluiu.
Lutando pelo domínio do espaço desde os primeiros dias das viagens espaciais, os EUA iniciaram uma série de programas de ASAT no início dos anos 1960, segundo o historiador espacial norte-americano, Dwayne Allen Day, quase imediatamente após o lançamento do Sputnik pela URSS em 4 de outubro de 1957. Com o colapso da União Soviética, os EUA passaram a se ver como a única força militar espacial.