Identificadas pela primeira vez em 1999, essas misteriosas faixas de sombra observadas em uma explosão solar ficaram conhecidas como "vazios escuros em movimento descendente" e foram relacionadas inicialmente às interações com o campo magnético que desencadeia as erupções solares.
Uma equipe de pesquisadores liderada pelo astrônomo do Centro de Astrofísica Harvard & Smithsonian, Chengcai Shen descobriu que esses "fluxos descendentes supra-arcada" ("arcada" em astrofísica refere-se a um feixe em forma de alça) são o resultado de interações de fluidos no plasma solar.
Publicado na Nature Astronomy e divulgado na Science Alert, o novo estudo observou cuidadosamente as imagens dos fluxos descendentes do Observatório de Dinâmica Solar da NASA e determinou que o fenômeno é muito semelhante às estruturas observadas nas interfaces de choque em remanescentes de supernovas, onde as instabilidades também resultam em longas estruturas semelhantes a dedos. A descoberta nos ajudará a entender melhor o comportamento selvagem do nosso turbulento Sol.
Nossa estrela é uma bola turbulenta de plasma incrivelmente quente, um fluido composto de partículas carregadas que interage fortemente com forças eletromagnéticas.
Imagem estática de vários fluxos descendentes supra-arcade ocorrendo em uma explosão solar. Os fluxos descendentes aparecem diretamente acima do arcade brilhante. Esta erupção solar ocorreu em 18 de junho de 2015
© Foto / NASA / SDO
Como o Sol é uma esfera, a superfície equatorial gira mais rápido que os polos. Isso resulta no emaranhado do campo magnético solar, que por sua vez pode produzir fortes campos magnéticos localizados em todo o Sol, abrindo as manchas solares das quais emergem as erupções.
"No Sol, o que acontece é que você tem muitos campos magnéticos que estão apontando em todas as direções diferentes. Em certo momento, os campos magnéticos são empurrados juntos até o ponto em que se reconfiguram e liberam muita energia na forma de uma explosão solar," disse a astrônoma do Centro de Astrofísica Harvard & Smithsonian Kathy Reeves.
"É como esticar um elástico e cortá-lo no meio. Está estressado, esticado e mais fino, então [quando ele rompe] vai voltar estalando."
Os pesquisadores executaram simulações de explosões solares e as compararam com os dados de observação. Eles descobriram que a reconexão magnética não é responsável pela maioria das sombras.
Em vez disso, os fluxos descendentes supra-arcada se formam espontaneamente na região da interface turbulenta abaixo do choque de terminação e são o resultado da interação de fluidos de diferentes densidades – como óleo e água, observaram os pesquisadores.
"Esses vazios escuros semelhantes a dedos são, na verdade, uma ausência de plasma. A densidade é muito menor aí do que o plasma circundante", disse Reeves.
Os resultados revelam que a região da interface pode ser mais complexa do que pensávamos, o que pode nos ajudar a entender como a energia magnética é liberada durante as explosões solares. A equipe planeja continuar realizando simulações em 3D de fenômenos solares para investigar mais.