Boris Johnson pediu desculpas durante uma fala no Parlamento britânico, logo após a divulgação do relatório nesta segunda-feira (31). O primeiro-ministro disse saber que "não é suficiente só pedir desculpas" e que ele entende a raiva da população.
"Primeiramente eu gostaria de pedir desculpas. Eu sinto muito pelas coisas que simplesmente não fizemos da maneira correta e sinto muito pela maneira como esse assunto foi tratado", disse Johnson aos parlamentares.
O líder britânico também informou que mudanças serão feitas na residência oficial e que concorda com a opinião da relatora Sue Gray de que medidas podem ser tomadas já a partir de agora. Johnson acrescentou que não vai renunciar ao cargo de primeiro-ministro após a divulgação do relatório.
De acordo com informações da Reuters, após a fala do primeiro-ministro, o líder do Partido Nacional Escocês, Ian Blackford, foi retirado do prédio por acusar Boris Johnson de ter mentido ao Parlamento sobre as festas durante a pandemia. A etiqueta parlamentar proíbe os legisladores de chamarem uns aos outros de mentirosos na câmara.
"Aconteceram falhas de liderança e julgamento por diferentes partes da residência oficial e do Gabinete em diferentes momentos. Alguns dos eventos não deveriam ter sido autorizados. Outros eventos não deveriam ter sido permitidos se desenvolverem da forma que foram", disse Sue Gray, a funcionária do governo responsável por escrever o relatório.
Durante as 12 páginas do relatório, Gray evitou especificar qualquer tipo de acusação direta ao primeiro-ministro Boris Johnson.
Gray interrogou mais de 16 funcionários do governo que supostamente teriam participado das reuniões durante 20 meses entre 2020 e 2021, durante períodos em que o Reino Unido estava seguindo as restrições de um forte lockdown.
Entre as regras vigentes à época estavam o fechamento de bares e restaurantes, a proibição de visitas a parentes doentes em hospitais e encontros ou reuniões com mais de seis pessoas.
"Em alguns momentos parecia haver muito pouca preocupação com o que estava acontecendo em todo o país, considerando se eram ou não apropriadas algumas dessas reuniões", escreveu Gray no relatório.
A relatora salientou no documento que "o consumo excessivo de álcool em ambiente profissional nunca é apropriado". Ela também afirmou que "todo o país aceitou o desafio [de combater o COVID-19]" e que "ministros, conselheiros e os servidores públicos" foram "parte-chave do esforço nacional".
A funcionária justificou a falta de detalhes no relatório dizendo que a Polícia Metropolitana havia pedido para ela não dar detalhes sobre as datas em que aconteceram as reuniões, nem outras informações que poderiam vir a prejudicar as investigações em andamento.
"Eles me disseram que só seria apropriado fazer referências mínimas às reuniões nas datas em que eles estão investigando", explicou Sue Gray.
Ela completou ainda dizendo que o governo não deveria esperar pelo seu relatório completo de 70 páginas ou pelos resultados das investigações policiais para agir.
Partygate
Entre as polêmicas reuniões que aconteceram durante o lockdown no Reino Unido e estão sendo investigadas, a de mais destaque foi a realizada nos jardins da residência oficial de Boris Johnson, em Downing street, na cidade de Londres.
Um convite para a reunião de "bebidas socialmente distanciada" foi enviado por e-mail para cerca de 100 pessoas por um assessor do primeiro-ministro. Na época, maio de 2020, as pessoas no Reino Unido eram proibidas por lei de se reunirem com mais de seis pessoas.