No final de janeiro, a Casa Branca anunciou que ia cortar US$ 130 milhões (cerca de R$ 690 milhões) na ajuda econômica que ainda seria enviada neste ano ao Egito. A justificativa foi a preocupação com questões envolvendo direitos humanos.
Os EUA exigem que o Cairo pare de perseguir críticos ao governo, jornalistas, mulheres e membros de grupos que defendem direitos civis e que também solte prisioneiros que possuem a cidadania norte-americana.
De acordo com especialistas, esta será a primeira vez os EUA não emitiram renúncia formal para enviar a ajuda ao país árabe, porém, o professor de ciência política e presidente da Universidade Helwan do Egito, Maged Botros, explica que o valor da ajuda já vem diminuindo ano a ano.
Segundo ele, em 1979 foram enviados US$ 258 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) em ajuda econômica, enquanto que em 2009 este número já tinha diminuído para US$ 150 milhões (cerca de R$ 800 milhões). A maior parte do dinheiro total enviado em ajudas é usado para investimentos militares.
"As ajudas econômica e militar sempre foram uma das ferramentas mais fortes nas mãos dos Estados Unidos. Nunca foi entendida como caridade. Sempre teve o intuito de estabelecer alguma vantagem política", disse Botros em entrevista à Sputnik.
Maged Botros diz que a razão por trás desta redução vem variando conforme o passar dos anos, desde a queda da União Soviética, quando se entendeu que não era mais necessário financiar tanto o Egito para manter a lealdade do Egito aos EUA, até mais recentemente, em 2002, quando os norte-americanos queriam que Cairo soltasse o ativista político e professor da Universidade Americana, no Cairo, Saad Al-Din Ibrahim.
O professor explica ainda que o Egito já não é tão dependente do auxílio norte-americano como era em 1979 e que os futuros cortes não vão "deixar o Egito de joelhos". O dinheiro vindo dos EUA representa apenas uma pequena fração do PIB egípcio e desde 2014 o país vem diversificando a origem de suas transações militares, comprando armas de países como Rússia, França, Alemanha e China.
"Os Estados Unidos estão tentando nos pressionar a aplicar o seu padrão de democracia. Isso eles podem esquecer. Se eles decidirem segurar o dinheiro, que seja assim. Nós conseguimos nos virar sem ele", explicou Botros.
Embora tenha sido aprovada a decisão de não enviar os fundos ao país árabe, alguns ativistas de direitos humanos consideram que ela é ofuscada pela venda ao Egito de US$ 2,5 bilhões (cerca de R$ 13,4 bilhões) em armas e equipamentos militares dos EUA, autorizada no início do ano pelo governo Biden.