"A frase de que os acordos de Minsk devem ser cumpridos é como o Pai Nosso – é repetida por todos. A questão é outra: os acordos de Minsk serão cumpridos sob condições da Rússia, na interpretação russa, ou serão cumpridos tais como eles são [na realidade], sem serem distorcidos pela Rússia? É por isso que dizemos que não vamos cumprir os acordos de Minsk sob condições da Rússia, mas isso não significa que não vamos cumprir os acordos de Minsk por princípio", disse Kuleba em um informe à imprensa transmitido on-line nesta quarta-feira (9).
Rússia sublinha importância de Kiev cumprir compromissos assumidos
Rússia tem enfatizado por várias vezes a necessidade de Kiev cumprir os acordos de Minsk, criticando os países ocidentais, em particular a França e Alemanha, integrantes das negociações no formato da Normandia composto por Rússia, Ucrânia, Alemanha e França, pela inação e exortando Paris e Berlim a persuadir Kiev a cumprir os acordos.
Agora, aparentemente os parceiros ocidentais, entendendo o perigo de uma nova escalada no sudeste da Ucrânia, começaram a trabalhar ativamente para encontrar uma solução para esta situação.
Presidente Macron se reúne com líder russo Vladimir Putin em Moscou
Assim, com o objetivo de encontrar possíveis soluções, nesta segunda-feira (7) foi realizada em Moscou uma reunião entre o presidente russo Vladimir Putin e o líder francês Emmanuel Macron, que durou várias horas.
Durante a reunião, o presidente russo falou ao seu homólogo francês sobre a importância do cumprimento por Kiev do complexo das medidas.
Em coletiva de imprensa após as conversações, Putin recordou as palavras do presidente ucraniano Vladimir Zelensky, que disse que não gostava de nenhuma das cláusulas dos acordos de Minsk.
Ao comentar estas afirmações Putin disse: "Bem, quer goste ou não goste – aguente minha linda. É preciso cumprir".
"Há certas coisas que não podemos contestar ao presidente da Rússia. A Ucrânia é realmente linda. Em relação a 'minha', isso já é um pequeno exagero", respondeu presidente ucraniano à frase de Putin.
O presidente russo, Vladimir Putin, explicou sua declaração sobre a Ucrânia feita após uma reunião com seu homólogo francês Emmanuel Macron.
O líder russo sublinhou que a frase não tinha "dimensão pessoal".
"A questão é apenas que quando ouvimos de um líder de Estado tais comentários, que de algo gosta e de algo não gosta em acordos fundamentais que regulam relações muito importantes entre países do ponto de vista da segurança, incluindo da própria Ucrânia, eu acho que não é o formato correto. Se um Estado assumiu certas obrigações, ainda por cima estipuladas no direito internacional e em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, então todos precisam cumprir e negociar sobre como fazê-lo", disse Putin.
Após a reunião em Moscou, o presidente francês viajou para Kiev onde, segundo ele, recebeu garantias do presidente ucraniano de suas intenções de cumprir os acordos.
Violação dos acordos de Minsk pelos militares da Ucrânia
Anteriormente, o Estado-Maior da Ucrânia admitiu abertamente o uso de drones para realizar ataques militares na região de Donbass. Ou seja, o comando das Forças Armadas da Ucrânia já não hesita em reconhecer a sua violação grosseira dos acordos de Minsk.
A proibição do uso de drones por ambas as partes do conflito está no memorando assinado pela Ucrânia em 19 de setembro de 2014, que se tornou a base para os acordos de Minsk posteriores. E mais tarde, em julho de 2020, o presidente Zelensky reafirmou o compromisso de não usar drones na zona de conflito.
Vale ressaltar que os acordos de Minsk foram assinados em 2015 pela própria Ucrânia, além da Rússia, França e Alemanha. Mas as autoridades ucranianas rejeitam assumir seus compromissos.
Os acordos assinados em Minsk exigem a retirada de armas pesadas, a restauração do controle de Kiev sobre suas fronteiras, maior autonomia para Donetsk e Lugansk e a realização de eleições locais.
O conflito ucraniano começou no início de 2014, após a proclamação da independência pelas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, no leste do país. Em seguida, Kiev lançou uma operação militar para parar as forças independentistas após um golpe de Estado, em fevereiro desse ano, apoiado pelo Ocidente.
A guerra em Donbass levou à morte de até 13.000 pessoas, dezenas de milhares de feridos e mais de 2,5 milhões de deslocados dentro ou fora da Ucrânia.