O debate sobre o uso da energia nuclear vive um momento intenso. Enquanto na França o segmento é estimulado pelo governo, a Alemanha decidiu fechar suas usinas. O Brasil, por sua vez, seguirá o exemplo francês, e prevê a construção de uma quarta usina até 2030.
Para cientistas da Universidade de Carnegie, nos EUA, o debate sobre o uso de energia nuclear deve passar consideravelmente pelas metas de zero emissões de carbono até meados do século.
De acordo com trabalho publicado na Nature Energy, de Lei Duan e Ken Caldeira, a atividade humana está expelindo poluição de carbono na atmosfera, afetando o ciclo global de carbono e causando aquecimento.
Imagem mostra a usina nuclear de Doel, na Bélgica, em 1º de fevereiro de 2022. Foto de arquivo
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Para minimizar os impactos climáticos catastróficos, é importante que a humanidade trabalhe para manter o aumento da temperatura média global abaixo de 1,5 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais.
"Fontes de energia renováveis, como eólica e solar, são ótimas para reduzir as emissões de carbono", disse Duan. "No entanto, o vento e o sol têm variação natural em sua disponibilidade de dia para dia, bem como entre regiões geográficas, e isso cria complicações para a redução total das emissões", comentou.
Segundo ele, as lacunas na energia que a eólica e a solar fornecem podem ser compensadas pela geração de energia a partir do gás natural.
No entanto, em um sistema elétrico de emissão zero, é necessária outra maneira de fornecer eletricidade quando o sol não está brilhando e o vento não está soprando.
Estudos anteriores mostraram que a redução de 80% das emissões de carbono pode ser alcançada aumentando as instalações de coleta de energia eólica e solar.
No entanto, as lacunas entre oferta e demanda criadas por essa variabilidade nos recursos naturais exigiriam mudanças significativas na infraestrutura dos países.
"Para acertar esses últimos 10% ou 20% de descarbonização, precisamos ter mais opções em nossa caixa de ferramentas, e não apenas eólica e solar", explicou Caldeira.
Os cientistas investigaram os recursos eólicos e solares de 42 países e usaram essas informações para avaliar a capacidade da energia nuclear de fornecer energia de baixo custo e substituir o gás natural como fonte de energia reserva.
A análise se concentrou em identificar quais países se beneficiariam de explorar a energia nuclear como uma opção para seu conjunto de energia mais cedo ou mais tarde.
Usinas nucleares Angra 1 e Angra 2, em Angra dos Reis (RJ). Foto de arquivo
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Eles descobriram que em países como os EUA, que têm as condições geográficas e climáticas adequadas para gerar ampla energia eólica, a energia nuclear não seria implantada até que fosse necessária para superar os últimos obstáculos restantes da descarbonização.
Porém, em países com recursos eólicos mais pobres, como o Brasil, o uso estratégico da energia nuclear pode permitir uma transição mais rápida do carbono.
"Sob controles rígidos de emissão de gases de efeito estufa, a geração confiável de energia fornecida pela energia nuclear tem muito valor potencial na rede elétrica para a maioria das nações", concluiu Duan.
Caldeira acrescentou: "A nossa análise procurou a forma mais barata de eliminar as emissões de dióxido de carbono assumindo os preços de hoje. Descobrimos que, ao preço de hoje, a energia nuclear é a maneira mais barata de eliminar todas as emissões de carbono do sistema elétrico em quase todos os lugares".