Panorama internacional

Kiev quer filiação na OTAN, isso seria 'garantia de segurança' à Ucrânia, diz Zelensky

Vladimir Zelensky, presidente da Ucrânia, e Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, realizaram uma conversa, após a qual o chefe de Estado ucraniano afirmou a necessidade de seu país se juntar à OTAN.
Sputnik
O presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, e chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, participaram de um encontro em Kiev para discutir a ajuda à Ucrânia na área econômica e energética, transmitido pelo Escritório Presidencial ucraniano no Facebook.

"Sem a Ucrânia é impossível criar uma arquitetura de segurança funcional na Europa, por isso hoje, em um tempo de desafios sem precedentes, é extremamente importante uma ajuda reforçada por parte de nossos parceiros. Ajuda na esfera de segurança, ajuda econômica, ajuda energética", disse Zelensky em um briefing com Scholz nesta segunda-feira (14), realizado no Palácio Mariinsky, no centro de Kiev.

Zelensky abordou a questão da possível entrada da Ucrânia na OTAN.
"Hoje muitos jornalistas e muitos líderes, na realidade não são muitos, insinuam à Ucrânia que podemos, assim dizendo, não arriscar e não levantar constantemente a questão da futura participação da aliança, porque esses riscos estão relacionados com a reação da FR [Federação da Rússia]. Acho que já ninguém esconde isso", resumiu o alto responsável ucraniano.
Zelensky sublinhou que a questão da entrada na OTAN depende de Kiev.
"A questão é outra, a questão é este caminho: quanto a Ucrânia deve ir por este caminho, com quem vai, quais serão os amigos e parceiros e quem apoiará nosso país nesse caminho? Mas será que, realmente, a questão das portas abertas [da OTAN] é realmente uma história, como um sonho, um sinal sobre para onde vamos, mas quando lá chegaremos, ninguém sabe", sublinhou ele, adicionando que Kiev "deve ir pelo caminho que escolheu".
O presidente da Ucrânia também exortou a Alemanha a apoiar Kiev em conseguir filiação à União Europeia (UE).
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"Para a Ucrânia é extremamente importante que nossos parceiros se manterão firmes na política de portas abertas acerca da OTAN. Esperamos ter apoio na filiação plena da Ucrânia à UE. Tal passo seria um sinal forte da escolha geopolítica do povo ucraniano, reconhecida na nossa legislação e por muitos países do mundo."
Ao mesmo tempo, o chefe de Estado ucraniano considerou um erro a retirada para o oeste da Ucrânia do pessoal diplomático de algumas embaixadas no país.
"É um grande erro que algumas embaixadas, são suas decisões, se estão mudando para o oeste da Ucrânia. Não há oeste da Ucrânia, há Ucrânia, ela é unitária. Por isso, se, Deus queira que não, algo acontecer, isso será em todo o lado. Não se pode estar fora da escalada e dos problemas a cinco ou seis horas [de viagem de carro]", observou, e instou também certos membros do parlamento ucraniano, que deixaram a Ucrânia, a regressar ao país.
Sobre o gasoduto russo Nord Stream 2 (Corrente do Norte 2), o presidente ucraniano relatou que foram discutidos os "riscos de segurança [...] e aqui temos algumas divergências nas avaliações".
"Entendemos claramente que isso é uma arma geopolítica – por isso mesmo a Ucrânia precisa de garantias de segurança energética. Eu sugeri começar um diálogo estratégico concreto na área energética, dentro do qual seriam elaboradas as garantias energéticas e o apoio efetivo ao nosso país. É importante que a Alemanha se torne o garante da continuação do trânsito de gás pelo território da Ucrânia", acrescentou Vladimir Zelensky.

Posição de Scholz

Scholz está de visita a Kiev, onde promove o fortalecimento das relações germano-ucranianas.
Ele respondeu às exortações da Ucrânia em conseguir armamento, apontando a política de Berlim de não fornecer armamento letal a regiões em crise, mas declarando que "a Alemanha fornece a maior ajuda financeira à Ucrânia, e continuaremos fazendo isso".

"No que toca a possibilidades particulares, estudamos regularmente os pedidos [que nos são dirigidos]. Quando terminarmos a análise, poderemos dizer algo a respeito disso", explicou o chanceler alemão, e reiterou que os EUA e a UE estão trabalhando em sanções antirrussas no caso de a Rússia "invadir" a Ucrânia.

"Estamos realmente trabalhando ativamente na preparação de um pacote de sanções, estamos prontos para tomar ações em qualquer momento. Isso é discutido exaustivamente com os amigos nos EUA, o presidente americano e seus colegas, é discutido intensamente no âmbito da União Europeia. Estamos prontos para tomar ações necessárias em qualquer dia", garantiu o chanceler da Alemanha.
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Scholz mencionou ainda que "ninguém deve duvidar da determinação, da preparação da UE e dos EUA acerca do que será necessário fazer se houver agressão militar contra a Ucrânia".
"Nós aí tomaremos ações, serão medidas extensivas, que teriam influência significante nas capacidades de desenvolvimento econômico da Rússia. Mas agora a questão é como evitar isso, para que nos preocupemos em desescalar a situação", advertiu.

Conflito em torno da Ucrânia

Em dezembro de 2014, no mesmo ano em que um golpe de Estado pró-ocidental removeu do poder o democraticamente eleito presidente Viktor Yanukovich, e causou a reunificação da Crimeia com a Rússia e conflitos internos em Donbass, o parlamento da Ucrânia aprovou mudanças em duas leis que impediam o país de se juntar a blocos.
Além disso, em fevereiro de 2019 o parlamento unicameral ucraniano emendou a Constituição do país de forma a assegurar um rumo do país em direção à União Europeia e à OTAN. A Ucrânia se tornou o sexto país com status de parceiro preferencial da Aliança Atlântica.
A Rússia nega estar planejando uma agressão contra a Ucrânia, dizendo que se trata de uma tentativa de encobrir a militarização pela OTAN dos territórios perto das fronteiras russas.
Moscou também rejeita o suposto uso do Nord Stream 2 para fins geopolíticos, incluindo contra a Ucrânia, mencionando diversos fatores internos e internacionais para a escalada dos preços energéticos na Europa, que incluem a rápida recuperação econômica que levou a um aumento na demanda não acompanhado pelo fornecimento, o preenchimento insuficiente dos depósitos de gás na Europa em meados de 2021, o fecho de usinas a carvão e nucleares e a competição dos preços com a Ásia.
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