"A mídia ocidental coloca [a ligação entre o FMI e Buenos Aires] como algo positivo, algo que salva a Argentina do caos econômico, mas na verdade só perpetua a situação de dependência financeira e de problemas nos ajustes do país a longo prazo", explica Campos.
Influência chinesa e russa
"Rússia e China têm estratégias muito bem definidas nas suas relações bilaterais e multilaterais, e para o Brasil, principalmente nos últimos anos, isso [a política externa] tem sido muito nebuloso. É muito importante esse posicionamento dos países latino-americanos para auferir conexões pragmáticas e de ganhos", afirma o especialista.
"O Brasil tem adotado políticas, principalmente socioambientais, que vão contra as diretrizes da UE sobre o assunto – inclusive várias fontes de financiamento do bloco foram pausadas durante esses últimos anos – por causa do desmatamento, das políticas ambientais do governo brasileiro, e isso sim tem sido combustível para o esfriamento das relações com a UE", observa o analista.
Bolsonaro e Putin
"Esse encontro entre os dois é muito estratégico no sentido eleitoral, uma vez que não são muitos países que aceitam receber o presidente brasileiro, então, com a ida, ele passa a mensagem de: 'Estamos atuando internacionalmente, vamos trazer investimentos para o Brasil em defesa e comércio, não estamos isolados', e isso faz ele se colocar como um líder da extrema-direita no mundo e como um estadista."
"Existe uma guerra de narrativas grande que alarmam algo que 'não é bem assim'. É só vermos os EUA dizendo que a guerra era iminente, que os cidadãos norte-americanos tinham que sair da Ucrânia, mas na verdade, temos que ver os interesses por trás disso. A popularidade de [Joe] Biden tem diminuído, e ele precisa desse instrumento de alarme para mostrar que é não é reativo, mas sim proativo, principalmente entre a população estadunidense que tem um grande imaginário em relação à Rússia por conta da Guerra Fria", complementa o especialista.