Os fragmentos de cerâmica encontrados pelos pesquisadores são chamados de óstracos, uma alternativa mais barata ao papiro, que era muito caro. Pedaços de vasos e outras peças de cerâmica e barro quebradas eram usadas de diversas maneiras, como para anotar recados, listas e recibos.
"O papiro era caro, então as pessoas usavam os óstracos para o uso diário. Eles escreviam contas ou recibos nas cerâmicas quebradas [...] Também podiam ser usados como material para escrever na escola. Você pode copiar textos neles e fazer anotações, guardar por algum tempo, assim como fazemos hoje. Então, quando não precisavam mais, jogavam fora", explicou um dos líderes das escavações, Christian Leitz do Instituto de Estudos do Antigo Oriente Próximo da Universidade de Tubingen, na Alemanha, em entrevista ao Jerusalem Post.
Detalhe de óstraco com o que especialistas acreditam ser o desenho de uma criança
© Foto / Athribis-Projekt Tübingen
As escavações no templo egípcio fazem parte de um projeto que durou 15 anos, em parceria do instituto alemão com o Ministério de Turismo e Antiguidades do Egito. A iniciativa agora está na fase de análise dos artefatos encontrados no sítio arqueológico de Athribis.
Os pesquisadores acreditam que, em média, os 18.000 óstracos encontrados no antigo templo tenham cerca de 2.000 anos de idade. Até então a maior concentração deste tipo de fragmentos encontrada no Egito havia sido descoberta em um local de armazenagem de registros médicos.
"O número de achados vai nos permitir aprender muito sobre a vida cotidiana na antiga cidade de Athribis, mas analisar e traduzir todos esses textos levará anos", disse Leitz.
Cerca de 80% dos textos foram escritos em egípcio demótico, o idioma mais comum na época, mas também foram encontradas escritas em grego, hieróglifos e copta, língua comumente associada ao início do cristianismo.
Grupo de arqueólogos trabalhando no sítio arqueológico de Athribis, no Egito
© Foto / Athribis-Projekt Tübingen
Entre os óstracos recém-descobertos, os pesquisadores encontraram o que acreditam ser algum tipo de punição. Além de templo, o prédio escavado também parecia funcionar como escola. Determinados óstracos com marcações semelhantes na frente e no verso são, de acordo com os arqueólogos, algum tipo de exercício ou castigo aos alunos.
Óstraco com textos que poderiam ser um tipo de punição aos alunos da época
© Foto / Athribis-Projekt Tübingen