Bancos com sede nos EUA são os principais financiadores de mineradoras com atividades que impactam diretamente em terras indígenas amazônicas.
Juntas, as gestoras Capital Group, BlackRock e Vanguard investiram US$ 14,8 bilhões (R$ 74,7 bilhões) em nove gigantes do setor de mineração com atuação na Amazônia brasileira.
As informações estão na quarta edição do relatório "Cumplicidade na Destruição", lançado pela organização Amazon Watch em parceria com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Garimpeiros trabalham em um garimpo no rio Rato, afluente do rio Tapajós, no Pará. Foto de arquivo
© Folhapress / Lalo de Almeida
A lista dos maiores financiadores das mineradoras com riscos aos povos indígenas brasileiros ainda inclui o conglomerado Citigroup, também dos Estados Unidos, e o SMBC Group, do Japão.
Embora algumas das principais mineradoras em atuação no país tenham prometido publicamente retirar pedidos minerários em terras indígenas, dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) mostram mais de 2,6 mil requerimentos ativos com sobreposições ou interferência direta em 214 terras indígenas na Amazônia.
O relatório destaca a expectativa em torno da abertura de terras indígenas para a mineração industrial e o garimpo, iniciativa que tramita no Congresso.
Alvo de forte lobby em Brasília e anunciada como projeto do governo de Jair Bolsonaro, a liberação representa, segundo ambientalistas, imensos riscos para a preservação do meio ambiente e para os direitos de comunidades indígenas e tradicionais.
O governo federal sustenta que a atividade poderá alavancar a indústria de exportação de ouro do Brasi. A ideia é regularizar um setor em que garimpeiros ilegais podem lucrar R$ 5,4 milhões por mês, segundo estimativa da Polícia Federal.
O PL 191/2020, que autoriza a mineração e o garimpo em terras indígenas, pode também causar a perda de 160 mil km² de floresta na Amazônia, área maior que a superfície da Inglaterra.
Dentre as regiões na mira dos investidores encontram-se áreas de grande importância ambiental da Amazônia, como a região do Tapajós e a de Alta Floresta (Juruena-Teles Pires), respectivamente no Mato Grosso e no Pará.
Garimpo ilegal na Amazônia, área do rio Rato, afluente do Tapajós. Foto de arquivo
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As terras indígenas mais afetadas pelos requerimentos são ocupadas pelos povos Kayapó e pelos Waimiri Atroari, Munduruku, Mura e Parakanã, entre outros grupos. Pelo menos cinco requerimentos dessas mineradoras estão em áreas onde vivem indígenas em isolamento voluntário, da etnia Apiaká.
"A mineração em terras protegidas na Amazônia, como as indígenas, deveria estar fora de questão, principalmente em um contexto de grave crise climática", afirma Rosana Miranda, consultora de campanhas da Amazon Watch.
O relatório "Cumplicidade na Destruição" também aponta que a mineração na Amazônia causou um aumento de 62% no desmatamento entre 2018 e 2021. Além disso, a atividade é responsável por até 28% dos gases de efeito estufa lançados globalmente.