"Foi sinistro. Estou em choque e cheia de hematomas, no ombro, debaixo dos braços e nas canelas. Três seguranças me levantaram pelo braço e me jogaram para fora. Fui empurrada várias vezes, em cima do portão, no chão, na rua, pois me recusava a sair dali. Pedi várias vezes, chorando, meu telefone de volta. Ficaram também com meu casaco, se recusando a devolver meus pertences. Estava um frio de 9 graus, e eu, sem casaco, do lado de fora sendo agredida", lamenta Júlia.
"O fato de eu ser agredida em Lisboa, acho que é porque sou brasileira e mulher, sim! Isso me deixa com medo para caramba, me deixa receosa de sair. Não conheço o país direito e fico com medo das pessoas daqui, até onde elas podem ir", complementa.
'Eles me deram joelhadas na costela, soco na cara, e quebraram meu dente'
"Eu vi esse cara fazendo o movimento de colocar a cara próximo à bunda da Júlia e não falei nada. Na segunda vez, falei para ele que aquilo era violento e abusivo e que eu estava de olho nele. Os seguranças falaram que se isso acontecesse [de novo] era para eu ir falar diretamente com eles", recorda Couto.
"Falei que eu poderia sair, mas queria meu dinheiro de volta. Neste mesmo momento, eles já vieram me pegando com força. Tentei resistir falando que precisava pegar minha jaqueta que estava com os meus pertences. Nesta hora, eles me levaram para a escada e me deram joelhadas na costela, soco na cara, e quebraram meu dente. Estou devastado, com o olho inchado, muitas dores na cara e nas costelas, com dificuldades para respirar", desabafa.
"Estou bem, mas até mais dolorida. Limparam meu machucado do pé, que está infeccionado, porque o segurança grandão deu um pisão", diz Júlia.
"Eu simplesmente estava fazendo o que todo mundo deve fazer, que é denunciar qualquer tipo de abuso. E todo esse abuso de poder ainda se virou contra mim. Sinto que foi um movimento de cunho homofóbico, machista e xenofóbico. É uma sensação de ser violentado de graça, que me deixa me sentindo abusado, invadido", detalha Couto.
'Foi-me dito explicitamente que não trabalham com pretos', diz ex-funcionário
"Um pouco antes da pandemia, meu [ex-]patrão decidiu vender o espaço. Eu ainda tinha contrato, e o normal é isso não afetar os trabalhadores. Mas qual não foi o espanto, no meu caso, quando os novos [atuais] proprietários não quiseram ficar comigo? Motivo: foi-me dito explicitamente que não trabalham com pretos. Eles são skinheads", acusa o ex-funcionário.
"É um esquema de lavagem de dinheiro. O segurança que vi [no vídeo] empurrar a menina [Júlia] tem sempre essa postura bruta, agressiva e rude. Esse é o modus operandi dessa gente que se escapa sempre. É gente com ideias machistas, sexistas. São racistas e homofóbicos", critica.