Hoje, no Brasil, é praticamente impossível desenvolver uma discussão política sem considerar uma grande fatia dos eleitores: a comunidade evangélica.
Os presidenciáveis deste ano sabem disso, e já se articulam para ter a atenção e o voto deste grupo. O ex-presidente Lula escolheu o pastor Paulo Marcelo Schallenberger para dialogar com o segmento, já o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) optou por Uziel Santana, o advogado e fundador da Associação Nacional de Juristas Evangélicos no Brasil (ANAJURE), para ser o coordenador do núcleo evangélico na pré-campanha.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não apresentou seu líder para esta parte dos eleitores, apesar de ter um representante bastante robusto em um cargo importantíssimo: o ministro André Mendonça, que tomou posse no Supremo Tribunal Eleitoral (STF) em meados de dezembro do ano passado.
No entanto, a gestão Bolsonaro já estaria se mexendo para dificultar a comunicação entre Moro e a bancada evangélica, segundo Santana.
"Nas Assembleias de Deus, o governo hoje só tem apoio explícito do Silas Malafaia. [...] Apesar de o governo estar assediando os grandes líderes para que não encontrem Moro, todos os pastores das grandes igrejas com quem tenho conversado concordam que não se pode depender de uma única via como Bolsonaro", disse o pastor em entrevista à Folha de São Paulo.
Santana relata que esteve com presidente algumas vezes, e acredita que seu governo tenha tido boas intenções, "mas entre a intenção e a realização encontramos graves erros", afirma.
Ao ser questionado pelo jornal se Bolsonaro é "um bom cristão", o advogado rebateu que "evangélico ele não é" e que algumas posições tomadas pelo presidente "são completamente contra o ideário do cristianismo". Ao ser pedido um exemplo dessas posições, Santana respondeu "sua ida à Rússia e enfrentamento da pandemia".
"O exemplo mais recente: foi ir à Rússia e participar de uma solenidade a soldados [soviéticos] do regime que mais perseguiu cristãos na história da humanidade. Ou é mal assessorado ou não entende o papel dele como presidente. E tem também as posições que tomou na pandemia. A imensa parte da igreja evangélica não concordou", declarou.
De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Instituto DataFolha e citada pela revista VEJA, um em cada três adultos no Brasil se identifica como evangélico.
Segundo o instituto, em 2020, os evangélicos representam 31% da população (mais de 65 milhões de pessoas). A adesão à religião evangélica no Brasil se dá predominantemente entre indivíduos das classes mais baixas; a maioria se filia as igrejas pentecostais e neopentecostais.