"Quem assume a posição de chefia de uma força policial como a Polícia Federal comanda um grupo de profissionais que são armados, mas que também são especializados e, principalmente, têm a função de operar com as leis e informações que vão atuar em diversas frentes, com o potencial tremendo de causar danos, seja no nível individual da vida das pessoas, mas também na sociedade, na política e na economia como um todo", explica Janot em entrevista à Sputnik Brasil.
"Tudo isso tem que estar de alguma maneira equacionado na confiança da sociedade na legitimidade desse processo. Essa parte é frequentemente escamoteada. É o famoso 'em tese', porque, na prática, o que se observa é que a nomeação dos cargos pode abrir margem para interferências, como formar alianças personalistas, que atendem muito mais a interesses de grupos privados do que qualquer outra coisa. Então, assim, a dança das cadeiras da nomeação do diretor-geral da Polícia Federal nesses últimos anos tem indicado essa linha", aponta.
"O maior exemplo para observar o problema dessa solução — que costuma ser divulgada como uma solução — são as próprias Forças Armadas brasileiras. São, sim, um corpo profissionalizado, especializado, autônomo, que escolheram participar do atual projeto político, mas mantiveram seu espírito corporativo e têm angariado vantagens para a corporação."
"[É necessário] principalmente fazer pressão por reformas urgentes nas forças de segurança: diminuir a autonomia e aumentar a supervisão civil, a gerência civil sobre o que se estuda e o que se aprende em todas essas organizações. O caminho me parece que está por aí", conclui.