Notícias do Brasil

Muito além das flores: Dia Internacional da Mulher provoca reflexão sobre machismo, diz especialista

O dia 8 de março marca a luta pelos direitos femininos — e isso vai muito além da paridade salarial entre gêneros. Em conversa com a Sputnik Brasil, pesquisadoras feministas apontam que a efeméride não deve ser feita de flores e celebrações: é preciso pensar no combate ao machismo, ao racismo e à violência contra a mulher.
Sputnik
A Organização das Nações Unidas (ONU) oficializou o Dia Internacional da Mulher em 1975. Embora correspondam a 52,2% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e sejam a mesma fatia do eleitorado do país, as mulheres seguem sub-representadas na política.
Atualmente, o Brasil tem apenas 15% de mulheres na Câmara dos Deputados, de acordo com um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). No Senado Federal, a proporção é ainda menor: 12%.
De acordo com o Mapa das Mulheres na Política 2020, feito pela ONU e pela União Interparlamentar (UIP), o Brasil ocupa o 145º lugar no ranking em número de mulheres no Parlamento, de um total de 187 países. Na América Latina, está à frente apenas de Belize (154º) e Haiti (187º, sem dados).
Panorama internacional
Suprema Corte da Colômbia descriminaliza o aborto até a 24ª semana de gestação

'Brasil é machista e misógino'

A baixa representatividade de mulheres na política pode ser reflexo direto da dominação masculina na sociedade.
"O Brasil é um país extremamente machista. Eu diria que, para além de machista, o Brasil é um país extremamente misógino. Também é preciso entender que o Brasil é um país recortado racialmente. A condição das mulheres negras precisa ser o norteador das lutas do movimento feminista", avalia Anna Carolina de Oliveira Meirelles da Costa, professora de história e integrante do coletivo Resistência Feminista.

Para ela, o 8 de março "é um dia de luta para todas nós, mulheres, não só aqui no Brasil, mas no mundo inteiro. É uma data que se afirmou historicamente a partir da luta das mulheres da classe trabalhadora espalhadas por vários países da Europa nos primeiros anos, nas primeiras décadas do século XX. É uma data que, apesar da tentativa de o capitalismo usurpar e transformar em uma data comercial ou branda, é de luta, de fúria".

Costa lembra que o período evoca as mulheres que se organizaram para ir às ruas reivindicar direitos básicos — como melhores condições de trabalho e salários, além de condições dignas de moradia — no começo do século passado.
Panorama internacional
Catalunha aprova reparação histórica por caça às bruxas

'Receber igual aos homens é importante, mas insuficiente'

A mestre em assistência social Janice Sodré, que estuda o feminismo sob a perspectiva da reprodução social, acredita que a sociedade brasileira evoluiu muito no debate sobre o feminismo e sobre o que é pensar a mulher. Pondera, entretanto, que ainda existe violência nas relações entre os gêneros — não apenas a física ou a sexual, mas também a psicológica.

"Temos a comemorar o dia 8 de março? Não. Não é um dia de comemoração, é um dia de reflexão. É um dia de construir constantemente 'oitos de março' e constantemente pensar sobre a nossa condição, o que é extremamente desgastante porque é algo que o capitalismo não permite que a gente faça", criticou.

Para a pesquisadora, a paridade salarial entre homens e mulheres é importante, mas insuficiente.

"Isso porque uma mulher pode receber igual ao homem, mas pode chegar em casa executando trabalho doméstico ou terceirizando esse trabalho ao contratar uma imigrante, uma mulher negra. Então a questão da opressão permanece. Não vejo em que isso colabora para o movimento das mulheres. Isso inclusive é usual, é interessante para uma determinada parcela da burguesia no Brasil", observou.

Sodré concorda que o Brasil é um país machista. E reflete: "O capitalismo é patriarcal. Ele é machista de origem. Por isso insisto: a revolução será feminista — ou não será. Só as mulheres têm a capacidade de resgatar a solidariedade de classe de trabalhadores e trabalhadoras. Por terem a pior das condições é que podem promover a melhor das condições".
Comentar