Em 2017 e 2019, Rússia e China, respectivamente, implantaram suas primeiras capacidades hipersônicas, estando outras nações, como Coreia do Norte e Coreia do Sul, França, Japão, Austrália e Índia, pesquisando a nova classe de armas.
Pela terceira vez consecutiva, a Lockheed Martin (gigante do ramo militar dos EUA) fracassou em lançar um novo míssil hipersônico para a Força Aérea norte-americana. A situação trouxe preocupação e embaraço ao Pentágono e ao Congresso porque ela não deverá cumprir o prazo estipulado para iniciar a produção do sistema de armas hipersônicas até 30 de setembro.
A arma de resposta rápida lançada do ar (ARRO, na sigla em inglês) é um míssil hipersônico de impulso que deve ser colocado a bordo dos bombardeiros estratégicos B-52H Stratofortress e B-1 Lancer, e suas especificações incluem um alcance operacional de 1.600 km e uma velocidade máxima de voo de cerca de 6.860 metros por segundo (Mach 20).
Um porta-voz do departamento de pesquisa e engenharia do Pentágono disse à Bloomberg que, embora seu diretor tenha "apoiado os intensos esforços da Força Aérea para acelerar o desenvolvimento", o prazo de 30 de setembro era um "cronograma muito agressivo".
O deputado Jim Cooper, presidente do Subcomitê de Forças Estratégicas da Câmara, também expressou dúvidas sobre o programa. "Os EUA têm muito pela frente para alcançar a China. Será preciso muito mais do que um comunicado de imprensa de 30 de setembro para recuperar a liderança que desperdiçamos desde a década de 1970", disse ele.
O legislador enfatizou que os programas hipersônicos dos EUA em geral precisam de mais "financiamento, excelência em engenharia e testes rápidos para começar a paridade".
"Mesmo assim, me preocupo que os EUA nem saibam como recuperar o atraso, principalmente devido às repetidas falhas [que] tivemos até hoje em componentes que não deveriam ser tecnicamente desafiadores", disse Cooper.
A Força Aérea garantiu em comunicado que "ainda é possível" que a capacidade operacional inicial seja alcançada dentro do prazo, "desde que futuros testes de voo sejam concluídos conforme o plano atual". Apesar do fracasso dos testes anteriores, a Força Aérea sustenta que o programa de testes "demonstrou com sucesso vários eventos pela primeira vez".
A Academia de Ciências da Defesa da Coreia do Norte testou o novo míssil hipersônico Hwasong-8 na província de Jagang, Coreia do norte
© REUTERS / KCNA
O Pentágono congelou os planos de encomendar os primeiros 12 mísseis ARRO em janeiro, devido às falhas nos testes, enfatizando que "não concederia um contrato de produção sem uma Revisão de Prontidão de Produção e um Voo de Teste de Rodada Completa [que garantem a funcionalidade do sistema sem incidentes] bem-sucedido".
Isto é bom
Enquanto isso, a Lockheed Martin indicou que nada estava errado e que o desenvolvimento está ocorrendo conforme o planejado. "O governo conjunto e a equipe da Lockheed Martin revisam de perto todos os testes para garantir que as medidas de qualidade permaneçam em vigor", disse a porta-voz da empresa, Cristina Vite. O míssil "continua a ganhar maturidade técnica significativa enquanto realiza muitos marcos pela primeira vez", acrescentou a porta-voz.
Espera-se que o quarto e quinto testes do ARRO, em que será avaliado seu motor de reforço, ocorram até o final de junho, com pelo menos US$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 5,18 bilhões) previsto para ser injetado no projeto antes que a "capacidade operacional inicial" seja alcançada (acima das estimativas de custo anteriores de US$ 480 milhões ou R$ 1,78 bilhão). Mais testes são esperados entre julho e setembro de um míssil totalmente operacional.
Juntamente com o ARRO, os empreiteiros de defesa dos EUA estão envolvidos no desenvolvimento de pelo menos seis outros sistemas hipersônicos, incluindo um corpo de deslizamento hipersônico comum do Exército-Marinha (CHGB, na sigla em inglês), uma arma de ataque rápido convencional intermediário da Marinha (CPS, na sigla em inglês), uma arma hipersônica de longo alcance (LRHW, na sigla em inglês) para o Exército, a arma de ataque convencional hipersônica (HCSW, na sigla em inglês) e o conceito de arma de respiração aérea hipersônica (HAWC, na sigla em inglês), ambas para a Força Aérea, e o programa de munições operacionais da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA, na sigla em inglês).
O Exército ganhou as manchetes quando anunciou que começaria a colocar o CHGB em campo no ano passado, recebendo os primeiros componentes de seu primeiro sistema CHGB em outubro, incluindo uma bateria, centro de operações, transportadores de lançadores, caminhões e reboques. No entanto, crucialmente, as munições hipersônicas para o sistema não foram entregues e nem devem ser produzidas até o ano fiscal de 2023.
A Rússia tornou-se o primeiro país do mundo a pôr em campo um moderno sistema de armas hipersônicas, colocando em serviço o míssil aerobalístico ar-terra Kh-47M2 Kinzhal com capacidade nuclear em dezembro de 2017. A existência do sistema foi revelada em uma apresentação do presidente Vladimir Putin em março de 2018.
A China seguiu o exemplo, tornando o veículo hipersônico planador DF-ZF operacional em outubro de 2019.
A Rússia conseguiu um avanço em seu programa de hipersônicos ao tirar a poeira da pesquisa da era soviética no início dos anos 2000, depois que os Estados Unidos se retiraram unilateralmente do Tratado de Mísseis Antibalísticos de 1972 – que impunha severas limitações à criação de sistemas de defesa contra mísseis balísticos.