De acordo com o relatório do Lighthouse Reports, blindados suíços foram usados entre 2014 e 2018 em ações militares no Rio de Janeiro, como a ocupação do Complexo da Maré pelas Forças Armadas entre abril de 2014 e junho de 2015. Inicialmente, os veículos haviam sido exportados para o país com propósito humanitário, segundo o documento.
Conforme relatado pela Folha de São Paulo, 30 veículos Piranha 3C foram exportados entre 2007 e 2014 com a intenção de serem usados pelas Forças Armadas em missão humanitária das Nações Unidas no Haiti, ação que o Brasil chefiou de 2004 a 2017.
Retirada do Corpo de Fuzileiros Navais do Complexo de Favelas da Maré, na zona norte do Rio, em 30 de junho de 2015
© AFP 2023 / CHRISTOPHE SIMON
/ Porém, diante da análise de vídeos e fotografias obtidas em fontes abertas, revelou-se a aplicação dos veículos suíços em operações policiais dentro de favelas, por vezes transportando forças do Bope (Batalhão de Operações Especiais). Em algumas dessas ações, disparos de militares atingiram civis, em um contexto de violação de direitos humanos, segundo a Folha.
"É chocante ver evidências de veículos armados suíços sendo usados pela polícia brasileira no contexto de abuso de direitos humanos contra os mais pobres e vulneráveis. Os que tomaram a decisão da exportação na Suíça podem não ter pretendido essa cumplicidade, mas o caso demonstra a facilidade com que armas ou veículos armados podem ser mal utilizados", disse Hannah Neumann, deputada alemã do Parlamento Europeu citada pela mídia.
A Marinha, responsável pela importação dos blindados Piranha, disse que o uso no Haiti "garantiu excelente proteção para as forças brasileiras nas ações de estabilização, principalmente nos momentos em que sofriam atentados de bandos armados".
Fora do Haiti, onde permaneceram até o encerramento da missão em outubro de 2017, as viaturas demonstraram, de acordo com a nota da instituição, "perfeita aplicabilidade às ações de Garantia da Lei e da Ordem determinadas pelo governo federal [no Brasil] com diferentes propósitos, como segurança de grandes eventos, proteção de dignitários, apoio aos órgãos de segurança pública nas proximidades de áreas ameaçadas pelo crime organizado, dentre outros".
Exército faz operação na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro
© Foto / Tomaz Silva/Agência Brasil
No entanto, o armamento suíço é apenas um exemplo de produtos de origem europeia que acabam no Brasil, apesar de regras de exportação rigorosas. Segundo a Unroca, base de dados ligada às Nações Unidas, a Áustria é outro local proeminente na exportação de armas ao país.
De acordo com o Ministério da Economia, em 2020, Viena foi o maior fornecedor de revólveres para o Brasil, segundo a mídia e com a ajuda de medidas do governo federal aprovadas para flexibilizar o acesso a armas, desde 2020, a importação desse material aumentou no Brasil.
11 de janeiro 2019, 00:23
"Hoje é muito mais fácil para a polícia realizar uma compra de armas no exterior, com menos burocracia por parte do Exército. E o discurso do presidente [Jair Bolsonaro] serve como incentivo público para legitimar a violência policial", disse diz Bruno Langeani, coordenador do Instituto Sou da Paz.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, citados pela Folha, indicam que em 2020 a polícia no Rio de Janeiro matou 6.146 pessoas, 79,1% das quais negras e 74,3% com menos de 30 anos.