Uma pesquisa inédita indica que, mesmo a cerca de 300 km da mineração ilícita no rio Tapajós, mais da metade (75,6%) dos moradores da zona urbana de Santarém apresenta níveis de contaminação por mercúrio até quatro vezes superiores ao limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 10 microgramas por litro.
As informações foram publicadas em um artigo no International Journal of Environmental Research and Public Health.
O estudo, realizado pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em parceria com a Fiocruz e o WWF, coletou o sangue de 462 pessoas entre 2015 e 2019.
Dos participantes do estudo, 203 são moradores da área urbana de Santarém e 259 vivem em oito comunidades ribeirinhas do município paraense, sete delas localizadas nas margens do rio Tapajós e uma nas margens do rio Amazonas.
Entre os ribeirinhos, a presença de mercúrio no corpo além do aceitável é constatada em mais de 90% da população. O metal é usado na separação de ouro pelos garimpos ilegais.
Garimpeiros do Pará
Apesar de, na grande maioria das vezes, a atividade de extração de ouro ser ilegal e configurar crime ambiental, é comum que balsas clandestinas avancem pelas águas do rio Madeira, no estado do Amazonas.
Nesse processo de mineração, as embarcações revolvem o fundo do rio, sugam o material para filtrar o ouro e devolvem a água em seguida.
Essas operações geram extremo dano ambiental, porque acabam com todo tipo de alimento de centenas de espécies de peixes, comprometem a qualidade da água e provocam assoreamento.
Além da prática de mineração ilícita, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) acredita que deve haver outras ilegalidades a ser investigadas, tais como: mão de obra escrava, tráfico, contrabando e problemas com a capitania dos portos.
Em novembro do ano passado, houve uma mobilização no rio Madeira após o anúncio de que teria sido encontrado um grande volume de ouro no local. Em situações comuns, as balsas se reúnem de forma independente. Dessa vez, porém, mais de 600 se dirigiram para a região.
Perigo do mercúrio
O mercúrio é um metal pesado tóxico, frequentemente associado a danos nos tecidos e deficiências na saúde mental, além de alterações comportamentais, imunológicas, hormonais e reprodutivas.
Disfunções nos rins e no fígado foram registradas entre os participantes santarenos, sendo a gravidade dos casos proporcional à concentração de mercúrio encontrada no organismo.
Na cidade paraense estão aparecendo cada vez mais pacientes que trabalham em garimpo ou sofrem indiretamente as consequências do mercúrio usado na mineração, apresentando sintomas neurológicos, digestivos, psiquiátricos e respiratórios.