Desde de o começo da operação especial militar russa na Ucrânia, os EUA têm enviado altíssimas quantidades de armamento para Kiev. Na quarta-feira (16), o governo Biden anunciou US$ 800 milhões (cerca de R$ 4 bilhões) em nova ajuda de segurança incluindo armas antiaéreas e drones.
Para Bruce Gagnon, coordenador da Rede Global Contra Armas e Energia Nuclear no Espaço e colaborador da Foreign Policy In Foco (FPIF, na sigla em inglês), mais do que ajudar o governo ucraniano, há uma intenção por trás de toda assistência norte-americana a Kiev: as cifras da indústria bélica.
"Uma razão para a contínua transferência de armas das nações da OTAN para a Ucrânia é manter os lucros do complexo industrial militar fluindo. Os EUA vão 'substituir' essas armas para o país doador em particular, cobrando-as por novos equipamentos militares ou fazendo com que os contribuintes norte-americanos paguem a conta. De qualquer forma, a indústria de armas lucra muito", analisou Gagnon.
Segundo dados, as ações de fabricantes de armas fizeram progressos substanciais em pouco mais de uma semana e continuam a subir.
Entre 24 de fevereiro (início da operação) e 4 de março, as ações de defesa dispararam amplamente, com ações da Raytheon Technologies subindo quase 8%, General Dynamics 12%, Huntington Ingalls Industries 14%, Lockheed Martin 18% e o Northrop Grumman 22%, de acordo com a Fortune.
Militares ucranianos desembalam mísseis antitanque Javelin, entregues como parte da assistência de segurança dos Estados Unidos da América à Ucrânia, no aeroporto de Borispol, Ucrânia, 11 de fevereiro de 2022
© AP Photo / Efrem Lukatsky
No entanto, mesmo antes da operação russa, grandes empreiteiros de defesa dos EUA começaram a se beneficiar com a Ucrânia, com o governo Biden aumentando a ajuda ao país do Leste Europeu desde o início de sua presidência.
"Em seu primeiro ano no cargo, Biden aprovou mais ajuda militar à Ucrânia – cerca de US$ 650 milhões [R$ 3,2 bilhões] – do que os EUA jamais forneceram", observou o The Intercept no artigo "Transferências de Armas sem Precedentes dos EUA e da OTAN para a Ucrânia Podem Prolongar a Guerra" do dia 10 de março.
Na visão de Gagnon, os empreiteiros de defesa estadunidenses são os principais beneficiários do belicismo EUA-OTAN.
"Todas essas corporações de armas têm um grande número de lobistas que circulam diariamente pelos corredores do Congresso. Eles também fazem doações generosas aos membros do Congresso [de ambos os partidos]. Então, essencialmente, a máquina de guerra tem o sistema político sob seu controle", afirma o coordenador.
Fornecer todo esse apoio bélico à Ucrânia seria uma ferramenta para "desestabilizar as fronteiras da Rússia".
"Parece-me óbvio que os EUA estão usando a Ucrânia como uma ferramenta para desestabilizar as fronteiras da Rússia e, assim, forçar Moscou a gastar mais com os militares, o que tira as prioridades domésticas", diz Gagnon.
Soldados ucranianos usam lançador com mísseis Javelin dos EUA durante exercícios militares na região de Donetsk, Ucrânia, 12 de janeiro de 2022
© AP Photo / Mídia Associada
Mas essas "ferramentas de desestabilização" não seriam eficazes apenas através do envio de equipamentos militares, as sanções também fazem parte do pacote.
"As sanções ocidentais impostas à Rússia são mais uma evidência deste plano EUA-OTAN de 'exagerar e desequilibrar' a Rússia. EUA-OTAN querem mudança de governo em Moscou. Washington e a UE não dão a mínima para as pessoas na Ucrânia", explicou.
Além dos ganhos econômicos com a venda de armamento e as sanções, há também uma preocupação geopolítica, com Gagnon afirmando que "Washington e a Aliança Atlântica temem que o mundo multipolar vindouro seja liderado por Rússia e China".
"Eles entendem que sua 'janela de oportunidade' para destruir Moscou e Pequim está se fechando – daí seu desespero. A recente ameaça do governo Biden à China [que se Pequim não renunciasse à Rússia seria sancionada também] revela o quanto esse novo distanciamento econômico crescente do controle ocidental está impulsionando a política EUA-OTAN", complementa.