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Economista: medidas 'populistas' de Bolsonaro não reduzem preços e focam na reeleição

A inflação no Brasil segue em alta, pressionada pelo preço dos combustíveis e pela influência da instabilidade internacional. A Sputnik Brasil ouviu um economista para discutir a situação e os desdobramentos de medidas anunciadas pelo governo federal, descritas como "ineficientes" e de "interesse eleitoral" pelo especialista.
Sputnik
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que a inflação no Brasil está no patamar de 10,54% no acumulado dos últimos 12 meses, três vezes acima do centro da meta estabelecida pelo Banco Central — 3,5%. Entre os itens de maior peso nesse indicador está o preço dos combustíveis. Ajustados segundo o mercado internacional, produtos como a gasolina e o diesel se tornaram pivôs da pressão inflacionária no país.
O economista André Braz, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), salienta que em 2021 os combustíveis tiveram forte impacto sobre a inflação no Brasil — que fechou o ano em 10,06%, conforme dados do IBGE. Ele diz que o aumento dos preços no segmento de energia ameaça a economia brasileira encarecendo a atividade industrial e o setor de serviços.

"O Brasil é um país muito dependente de transporte rodoviário. O óleo diesel movimenta, além da nossa frota rodoviária, as máquinas no campo. Então vários produtos acabam chegando mais caros nos grandes centros urbanos porque o frete fica mais caro. As máquinas agrícolas têm seus custos de produção aumentados, o que pode refletir também no agronegócio, no aumento do preço dos itens colhidos no campo", explica o pesquisador à Sputnik Brasil, citando ainda o efeito nas tarifas de ônibus urbanos.

Postos de Porto Alegre reajustaram os valores da gasolina em 7 de outubro de 2021. O aumento na bomba foi de R$ 0,20 no litro do produto.
Braz ressalta que a crise na Ucrânia agrava a pressão sobre os preços no Brasil devido ao impacto na precificação do petróleo e de grãos, como no caso do trigo, que reflete em produtos como pão, biscoitos e massas. O economista aponta que a instabilidade dos preços é global e o processo de adaptação no país deve demorar.

"Nesse tempo de ajuste, os preços podem se manter elevados, e isso vai gerar um desafio maior para o mundo todo. E o Brasil já vem com um processo inflacionário mais alavancado, então a política monetária vai ter que trabalhar mais para conter isso. A gente não vai ver a nossa economia reajustada rapidamente. O processo de ajuste é lento e vai depender da estratégia que o governo escolher para os anos seguintes", avalia.

Ele também salienta que os aumentos dos preços inspiram uma reação do Banco Central, uma vez que a inflação segue muito acima da meta estabelecida. Para Braz, a medida tomada tem sido o aumento da taxa de juros, que há um ano estava em 2,75% e agora está em 11,75%, tendente a subir ainda mais. Como efeito colateral, reforça, a economia do Brasil deve crescer menos.

"As previsões de crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] deste ano são muito baixas. Então, com o PIB baixo, a gente acaba vendo as oportunidades de emprego e renda desaparecerem. Uma chance de aquecer a atividade seria combater essa inflação o mais rápido possível e tentar fazer com que esses juros recuem, abrindo espaço para a tomada de crédito, para a retomada de financiamento", indica o pesquisador, ressaltando que com os juros altos, empresários e famílias tendem a investir menos.

Medidas fiscais do governo Bolsonaro visam à reeleição e não têm impacto real

Diante do cenário de pressão inflacionária, o economista acredita ainda que o atual governo tem mostrado interesse em medidas fiscais como "propaganda política" devido ao ano eleitoral, em desacordo com a autoridade monetária — o presidente Jair Bolsonaro está em busca da reeleição.

"Nesse período a gente tem visto medidas populistas, que não têm muito efeito, mas que são a tentativa do governo de mostrar para a população que está trabalhando. Então se vê corte de impostos, concessão de 13º antecipado para idosos, saque do Fundo de Garantia — uma série de coisas que são um pouco desafiadoras para a política monetária", afirma Braz.

Presidente da República Jair Bolsonaro durante reunião com o ministro da Economia Paulo Guedes.
Na segunda-feira (21), o governo Bolsonaro anunciou cortes de impostos na importação do etanol e de seis alimentos — café, margarina, queijo, macarrão, açúcar e óleo. Segundo a gestão, a medida seria uma forma de conter o impacto da inflação sobre a população. Conforme diz o professor da FGV, tais ações não têm efeito prático na vida do consumidor, trarão custos aos cofres públicos e funcionarão apenas até o fim do ano.

"Medidas como essa estão sendo divulgadas a todo momento. Semana passada foi o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], sobre os bens duráveis. Nesta semana foi o corte de impostos de importação de uma série de itens ligados à cesta básica. O meu receio é de que esse esforço todo não chegue exatamente ao consumidor, porque os preços do trigo, da soja, por exemplo, são preços internacionais. Então tira o imposto de importação, mas o preço do grão continua subindo, e o efeito líquido, que seria a redução do preço na gôndola do supermercado, o consumidor não vê", explica.

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