"O Brasil é um país muito dependente de transporte rodoviário. O óleo diesel movimenta, além da nossa frota rodoviária, as máquinas no campo. Então vários produtos acabam chegando mais caros nos grandes centros urbanos porque o frete fica mais caro. As máquinas agrícolas têm seus custos de produção aumentados, o que pode refletir também no agronegócio, no aumento do preço dos itens colhidos no campo", explica o pesquisador à Sputnik Brasil, citando ainda o efeito nas tarifas de ônibus urbanos.
"Nesse tempo de ajuste, os preços podem se manter elevados, e isso vai gerar um desafio maior para o mundo todo. E o Brasil já vem com um processo inflacionário mais alavancado, então a política monetária vai ter que trabalhar mais para conter isso. A gente não vai ver a nossa economia reajustada rapidamente. O processo de ajuste é lento e vai depender da estratégia que o governo escolher para os anos seguintes", avalia.
"As previsões de crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] deste ano são muito baixas. Então, com o PIB baixo, a gente acaba vendo as oportunidades de emprego e renda desaparecerem. Uma chance de aquecer a atividade seria combater essa inflação o mais rápido possível e tentar fazer com que esses juros recuem, abrindo espaço para a tomada de crédito, para a retomada de financiamento", indica o pesquisador, ressaltando que com os juros altos, empresários e famílias tendem a investir menos.
Medidas fiscais do governo Bolsonaro visam à reeleição e não têm impacto real
"Nesse período a gente tem visto medidas populistas, que não têm muito efeito, mas que são a tentativa do governo de mostrar para a população que está trabalhando. Então se vê corte de impostos, concessão de 13º antecipado para idosos, saque do Fundo de Garantia — uma série de coisas que são um pouco desafiadoras para a política monetária", afirma Braz.
"Medidas como essa estão sendo divulgadas a todo momento. Semana passada foi o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], sobre os bens duráveis. Nesta semana foi o corte de impostos de importação de uma série de itens ligados à cesta básica. O meu receio é de que esse esforço todo não chegue exatamente ao consumidor, porque os preços do trigo, da soja, por exemplo, são preços internacionais. Então tira o imposto de importação, mas o preço do grão continua subindo, e o efeito líquido, que seria a redução do preço na gôndola do supermercado, o consumidor não vê", explica.