Diretor de um dos mais renomados institutos de pesquisa sobre ciência política da França, Jacques Sapir falou nesta sexta-feira (8) com o jornal La Tribune sobre as sanções europeias contra a economia russa.
Ele criticou a recusa da UE em comprar carvão de Moscou e disse que a medida aumentará "a guinada russa em direção à Ásia", dando-lhe maior "liberdade de ação e manobra".
Segundo ele, "a proibição europeia de fornecimento de carvão não terá um impacto significativo na economia russa" porque "a indústria mineira de carvão poderá encontrar novas oportunidades", principalmente na China e na Índia, disse o especialista.
Ao longo de sua entrevista, Sapir lembrou que, desde 2010, cada edição da estratégia de segurança energética da Rússia revelou uma "virada" para a Ásia, visando "reduzir a dependência das exportações europeias".
O economista ainda afirmou que está em discussão um projeto para a construção de um gasoduto, que passará pelo território do Afeganistão, para abastecer a Índia.
O especialista denunciou ainda a falta de estratégia do Ocidente ao sancionar o petróleo russo. Ele sustenta que, mais uma vez, "o lugar dos compradores europeus" foi ocupado por Pequim e Nova Deli.
"A Índia chegou a um acordo que corresponde aos seus interesses: atualmente, Nova Deli paga cerca de 75 dólares (R$ 353) por barril russo. Isso é uma redução de cerca de 20 dólares (R$ 90) por barril", comentou.
O economista lembrou que o preço do petróleo bruto da Arábia Saudita é cerca de 100 dólares (R$ 471), enquanto "a Rússia vende a um preço mais baixo, mas mantém os ganhos nos volumes".
Além disso, ele citou os dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), que apontou nas últimas semanas que as restrições resultaram em uma queda nas exportações russas de apenas 20%, embora a previsão fosse de 30%.
Uma recente publicação do jornal The Economist partilha das conclusões de Jacques Sapir. O veículo do Reino Unido escreveu no último dia 30 que a economia russa está se sentindo muito melhor que o esperado, apesar da "guerra econômica" sem precedentes por parte de países ocidentais.
Apesar de seu preço subir mais de 5% desde o início de março, a vodca, produzida principalmente no país, passou por uma alta ligeira, enquanto a gasolina está mais ou menos no mesmo valor. Já os gastos em serviços caíram pouco e seguem "muito mais saudáveis" que durante a maior parte do período pandêmico.
O PIB do país subiu a uma taxa anualizada de 5% na semana até 26 de março, com o consumo de eletricidade e o carregamento de bens por via ferroviária também se mantendo estáveis. Isso prova que, pelo menos até agora, a atividade econômica da Rússia foi pouco afetada, conclui o jornal.
No entanto, The Economist também crê que o país deve entrar em recessão neste ano, apesar de considerar igualmente que, devido ao fato de muitas empresas terem começado suas operações nos tempos soviéticos e por ainda haver grandes níveis de exportação de petróleo e de gás, "se há uma economia que consegue aguentar ser cortada do mundo, é a da Rússia".