O distante Netuno, que orbita o Sol a cerca de 30 vezes a distância da Terra, leva um longo tempo para fazer sua jornada ao redor da estrela, cerca de 165 anos terrestres. Isto significa que a cada 40 anos em nosso planeta a estação de Netuno muda.
Atualmente, o hemisfério sul de Netuno está no meio de um verão duradouro pelas próximas quatro décadas e, exatamente por esta razão, os astrônomos não conseguem explicar completamente o porquê de a temperatura não estar exatamente aquecendo.
"Esta mudança foi inesperada", diz o cientista planetário da Universidade de Leicester, no Reino Unido, Michael Roman.
Mudanças observadas no brilho infravermelho térmico de Netuno
© Foto / Michael Roman/NASA/JPL/Voyager-ISS/Justin Cowart
"Desde que observamos Netuno durante o início do verão no sul, esperávamos que as temperaturas ficassem lentamente mais quentes, não mais frias."
As leituras só foram possíveis com o advento de medições sensíveis de infravermelho em telescópios espaciais mais novos. Um deles é o VISIR (VLT Imager and Spectrometer for mid-Infrared) instalado no Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul, que pode inferir a temperatura com base no nível de emissão de luz infravermelha.
Roman e sua equipe analisaram quase 100 observações térmicas do planeta, muitas capturadas pelo VISIR, mas também incluindo dados do Telescópio Espacial Spitzer da NASA e outros telescópios terrestres no Chile e no Havaí.
No entanto, não é claro o motivo pelo qual a temperatura atmosférica de Netuno parece flutuar tão inesperadamente no meio de seu verão, mas para os pesquisadores mudanças na química da atmosfera podem estar por trás das variações observadas.
"Enquanto o metano absorve a luz solar e aquece a atmosfera, os hidrocarbonetos produzidos fotoquimicamente – principalmente etano e acetileno – são poderosos emissores infravermelhos que servem para resfriar a estratosfera", explicam os pesquisadores em seu artigo.
Pesquisas anteriores sobre a temperatura de Saturno descobriram que a interação de produtos químicos nas nuvens atmosféricas pode afetar sua temperatura, "no entanto, dado o período orbital de 165 anos de Netuno, espera-se que quaisquer mudanças sazonais ocorram gradualmente ao longo de décadas", escrevem os pesquisadores.
Outra explicação possível são as variações climáticas – que podem afetar a composição e a química das nuvens atmosféricas – incluindo os efeitos dos vórtices escuros vistos em Netuno, que é outro dos enigmas do planeta para os quais não temos resposta.
Muitas outras pesquisas precisam ser realizadas para que a ciência chegue a uma resposta. Para Roman, "Netuno é muito intrigante para muitos de nós porque ainda sabemos muito pouco sobre ele".