Os referidos documentos mostram que os especialistas ucranianos trabalharam na criação de meios de entrega de armas de destruição em massa, segundo Igor Kirillov, chefe das Forças de Defesa Química, Biológica e de Radiação da Rússia durante briefing sobre o resultado da análise documental com relação às atividades biológicas militares dos EUA na Ucrânia.
Além disso, Kirillov ressaltou que foi criado o Centro de Ciência e Tecnologia Ucraniano (STCU, na sigla em inglês) que distribuiu subsídios aos experimentos de interesse do Pentágono, inclusive na esfera de armas biológicas.
"Vou dar os nomes dos funcionários que estiveram envolvidos na implementação de programas biológicos militares. O cargo de Diretor Executivo do STCU é ocupado pelo cidadão norte-americano Curtis Bjelajac. Nascido em 27 de agosto de 1968, na Califórnia, estudou na Universidade Anderson of Management na Califórnia […e] trabalha na Ucrânia desde 1994", disse Kirillov. Segundo ele, o vice-secretário de Estado adjunto para programas de não-proliferação dos EUA, Phillip Dolliff, supervisiona em nome de Washington.
Kirillov observou que os documentos obtidos pelo Ministério da Defesa da Rússia confirmam a conexão entre o STCU e o departamento militar dos EUA por meio do principal contratado do Pentágono, a empresa de engenharia Black & Veatch. O ministério russo tem a correspondência do vice-presidente desta empresa, Matthew Webber, onde ele expressa sua disponibilidade para trabalhar com o STCU na pesquisa biológica militar em andamento na Ucrânia.
Os EUA gastaram US$ 350 milhões (R$ 1,65 bilhão) para projetos do centro, que atribuiu subsídios para pesquisas de interesse ao Pentágono, incluindo na área de armas biológicas, de acordo com o militar.
"[...] O Centro de Especialistas de Ameaças Químicas e Biológicas do Ministério da Defesa da Rússia determinou que o principal tipo de atividade do Centro de Ciência e Tecnologia Ucraniano era realizar funções de centro de distribuição de subsídios para pesquisas de interesse do Pentágono, incluindo na área de armas biológicas", afirmou Kirillov.
Os clientes e patrocinadores da Ucrânia do lado norte-americano correspondiam aos Departamentos de Estado e de Defesa dos Estados Unidos. E o financiamento do centro ocorria também através de uma agência de proteção do meio ambiente e dos departamentos de Agricultura, Saúde e Energia americanos.
"Usando uma formulação como essa, Washington na verdade reconhece a execução por especialistas ucranianos de trabalhos para criação de meios de entrega e aplicação de armas de destruição em massa e assume convenientemente a continuação do financiamento deles", afirmou.
No documento é apontado detalhadamente que "é observado um fluxo de cientistas especializados em criar meios de entrega e armas modernas, de funcionários de institutos ucranianos [...] e de especialistas no desenvolvimento de armas biológicas, radiológicas, químicas e nucleares. Os funcionários mais capacitados com experiência em trabalhar com materiais e tecnologias de dubla finalidade [estima-se entre 1.000 e 4.000 pessoas] foram encontrados em condições profissionais e financeiras desfavoráveis. Isso fez com que eles buscassem novas oportunidades em outros países, para colaborarem em programas de armas de destruição em massa, criação de meios de entrega e outras armas [...]".
Os eventos financiados pelo governo dos EUA e várias organizações eram "destinados exclusivamente aos membros da comunidade científica e técnica ucraniana que deixaram o país em 2022 e que possuem amplo conhecimento no desenvolvimento de armas de destruição em massa, meios de entrega e outras armas que são mais vulneráveis a passarem para Estados hostis".
Uma estimativa preliminar determinou que era necessário o governo americano gastar US$ 12 milhões (R$ 56,55 milhões) e US$ 10 milhões (R$ 47,13 milhões) em 2022 e 2023, respetivamente, para desenvolver e implementar o programa. Já em 2024 seriam necessários mais US$ 9 milhões (R$ 42,42 milhões) para completar e encerrar o programa.
Em março, os Estados Unidos ofereceram US$ 31 milhões por três anos para o programa de contratação de especialistas em armas de destruição em massa que deixaram a Ucrânia.
O documento em questão foi elaborado pelos curadores do Centro de Ciência e Tecnologia Ucraniano e assinado no dia 11 de março de 2022.
Experiências biológicas e químicas
Os documentos revelam que especialistas da Ucrânia, sob direção de cientistas dos EUA, estudaram a possibilidade de disseminar cólera, febre tifoide, hepatite A e E pela água para criar uma situação biológica desfavorável na Rússia e Europa Oriental, resumiu Kirillov.
"[...] Conduziram sistematicamente a amostragem de água em vários rios importantes da Ucrânia, incluindo o Dniepre, Danúbio e Dniester, e também no canal norte da Crimeia, com o objetivo de estabelecer a presença de patógenos particularmente perigosos, incluindo cólera, febre tifoide, hepatite A e E patógenos, e tirar conclusões sobre a possibilidade de sua propagação pela água", disse ele.
Segundo o chefe das Forças de Defesa Química, Biológica e de Radiação da Rússia, foram avaliadas as propriedades prejudiciais das amostras, que depois foram depositadas em uma coleção e exportadas para os EUA, como parte do projeto 3007, Monitoramento da Situação Epidemiológica e Ambiental sobre Doenças Perigosas Transportadas pela Água.
"Têm pela frente os recursos aquáticos da Ucrânia. Sua análise demonstra que os resultados dos trabalhos efetuados podem ser utilizados para criar uma situação biológica desvantajosa não só no território da Federação da Rússia, mas também nos mares Negro e de Azov, e também nos países do Leste Europeu – Belarus, Moldávia e Polônia", acrescentou.
O alto responsável russo disse que entre 2019 e 2021 cientistas norte-americanas conduziram experiências potencialmente perigosas com medicamentos sobre pacientes do Hospital Psiquiátrico Nº3, na cidade de Merefa, região da Carcóvia, e que foram escolhidas pessoas com distúrbios mentais levando em conta sua idade, nacionalidade e estado imune.
Eles teriam sido monitorizados 24 horas por dia em formulários especiais. Os dados não surgiram no banco de dados do hospital, e os médicos concordaram em não divulgar a informação.
"Em 8 de janeiro de 2022, as atividades do laboratório em Merefa foram interrompidas, [e] todos os equipamentos e medicamentos foram transportados para a Ucrânia ocidental. Há vários testemunhas destas experiências desumanas, cujos nomes não podemos revelar para assegurar sua segurança", detalhou.
A inteligência russa também encontrou em 9 de março três drones com pulverizadores químicos da Ucrânia, havendo também informações de que os ucranianos adquiriram 50 tais aeronaves, segundo Kirillov.
O Ministério da Defesa russo está preocupado com estas atividades biológicas dos EUA, especialmente fora de seu país, apontou o tenente-general.
"Nossa preocupação com as atividades de Washington na Ucrânia está ligada a que, contrário de suas obrigações internacionais, os EUA mantiveram na legislação nacional normas que permitem trabalhar na área das armas biológicas", apontou, referindo que os EUA deixaram uma séria de exceções quanto à aplicação de armas químicas e tóxicas no respetivo Protocolo de Genebra, assinado em 1925.
Essas incluem a permissão do uso retaliatório de tais armas, e a prevenção de responsabilização criminal de participantes norte-americanos de pesquisas nessas áreas, assinalou Igor Kirillov.