Com a disparada dos preços da carne vermelha nos últimos anos, muitos brasileiros passaram a substituir boi por frango no almoço. No café da manhã, a inflação do pão francês já suscitou recomendações de especialistas por tapioca. Mas, para muita gente, o bom e velho cafezinho não pode ficar fora da lista do mercado, mesmo com a escalada no valor do quilo.
As altas recentes dos preços do café se devem principalmente a condições climáticas adversas, que provocaram prejuízos na última safra. Porém a crise no Leste Europeu e a consequente queda nas vendas do grão para Rússia e Ucrânia geram preocupações.
Nas exportações, o país vem perdendo em quantidade, mas ganhando bastante em receita. Em março, houve queda de 6% no envio de sacas de 60 quilos de café ao exterior em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Foram exportadas 3,622 milhões de sacas, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Porém, devido à valorização do produto, a redução não impediu o crescimento de 69,3% da receita, em um total de 865,1 milhões de dólares (R$ 3,99 bilhões, aproximadamente).
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), o aumento de preço estimado, em 2021, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais foi de 52%.
As principais soluções dos consumidores, então, têm sido buscar promoções ou simplesmente trocar de marca.
"O café sempre vai estar na mesa dos brasileiros. É uma bebida insubstituível", disse à Sputnik Brasil Celírio Inácio, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC).
O especialista ressalta que, mesmo com os transtornos da pandemia nos últimos dois anos, o consumo subiu. Segundo ele, embora o bolso do consumidor esteja mais disputado, o brasileiro não abrirá mão do café.
"Baseado no histórico que temos do consumo de café, apesar das variações ao longo dessas três décadas, o café sempre se mostrou muito resiliente", afirmou.
Homem toma café na cidade de Pamplona, na Espanha, em meio à pandemia de COVID-19.
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Contudo Inácio explica que o perfil do consumidor do produto mudou nos últimos 20 anos. Atualmente os brasileiros não buscam apenas café, mas uma experiência ao beber — e degustar —, principalmente em cafeterias.
O especialista diz que 3% a 5% do salário mínimo sempre estiveram reservados para o produto. Para ele, agora o consumidor poderá ser "mais consciente", eventualmente consumindo menos para que o custo-benefício atenda suas expectativas.
"O consumidor exige além das qualificações necessárias do princípio do café, buscando na bebida muito além de alimento, com expectativas de sustentabilidade e agregação de valores", pontuou.
Custo e clima seguem como vilões para 2022 e 2023
Até o momento, a queda dos embarques para a Rússia, que era o sexto maior comprador do café nacional até o início da operação especial na Ucrânia, não afetou o volume financeiro dos produtores.
Pelo contrário. Para 2022, o diretor-executivo da ABIC prevê um aumento do volume na casa dos 3% em relação ao ano anterior. Ele acredita que haverá "ligeira melhora dos embarques marítimos e aumento dos estoques de países consumidores".
"Boa parte da produção já está comprometida e precificada. O custo de produção e o clima continuam sendo a grande preocupação com essa safra e para 2023", afirmou Inácio.
Segundo ele, como o preço do café é baseado na expectativa da safra do ano seguinte, o mercado interno vai ser precificado diante do que está por vir nos próximos meses.
Ou seja, para os consumidores, por ora, não há boas notícias.
"Os fundamentos de preços continuam bastante firmes, não permitindo ter uma expectativa de queda de preço por enquanto", disse o especialista.