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PIB brasileiro na gangorra? Previsão cresce enquanto a do mundo cai, mas 'duplo efeito' gera alerta

A Sputnik Brasil explica a nova projeção de alta para o PIB do país, ainda bem abaixo da média global, mesmo após a expectativa mais negativa por conta das tensões na Ucrânia. Especialistas minimizam as estimativas e apontam commodities como fiel da balança na atual economia nacional.
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Com a crise ucraniana, o mundo deve crescer 0,8% menos que o previsto e o Brasil 0,5% mais em 2022, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em um primeiro momento, a economia do país parece se beneficiar com o conflito entre Rússia e Ucrânia, enquanto as das demais nações perdem tração.
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Especialistas consultados pela Sputnik Brasil não se mostraram otimistas com as novas previsões do FMI e apontaram fatores que podem comprometer a resiliência brasileira em meio às tensões ucranianas.
Em primeiro lugar, apesar de o ajuste na projeção ser favorável, o país continua com um crescimento bem menor que o da média mundial.
Se a previsão de crescimento global caiu de 4,4% para 3,6%, a do Brasil subiu de apenas 0,3% para 0,8%.
Além disso, para 2023, o FMI indica que o Brasil acompanhará a tendência mundial, com crescimento 0,2% menor. A projeção brasileira agora é de 1,4%, e a da média global, de 3,6%.
Comércio em Campinas, São Paulo, em 11 de outubro de 2021. O alto índice de inflação prejudica o poder de compra do brasileiro e estagna a economia. Foto de arquivo
O economista Mauro Rochlin, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que o conflito teve um "duplo efeito" sobre a economia brasileira.
De um lado, provocou o encarecimento de commodities brasileiras, favorecendo as exportações do país. De outro, tornou também mais elevados os preços de produtos agrícolas e das próprias commodities de energia, impulsionando a inflação.

"[O conflito] favorece a balança comercial, mas prejudica pelo lado da inflação. Enquanto as commodities estiverem valorizadas, essa situação se mantém. Porém um menor crescimento global ainda deverá causar a redução dos preços das commodities", alertou.

O especialista também relativiza o aumento de 0,5% na previsão de expansão da economia brasileira. Segundo ele, embora para o mundo a nova projeção seja significativa, no caso do Brasil os números não devem ser celebrados.

"A mudança não significa uma retomada mais vigorosa da economia. Longe disso. A taxa continua abaixo de 1%. Com o resultado do PIB do Brasil no quarto trimestre de 2021 [alta de 1,6% em relação ao quarto trimestre de 2020], se repensou o PIB de 2022", disse Rochlin.

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Marco Rocha, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE-Unicamp), também não considera o Brasil tão resiliente ao conflito ucraniano.
Ele aponta que a crise pressiona os preços no mercado interno, o que se reflete sobre a trajetória de crescimento do país.
"Os efeitos estão chegando aqui e impactando, sobretudo, os custos das commodities e dos combustíveis na cadeia industrial. Acaba acelerando o processo inflacionário, comprometendo a renda das famílias, principal componente de importância em termos de crescimento do PIB", afirmou o economista.
Para Rocha, as revisões do FMI foram motivadas pela recuperação do preço das commodities, a partir do fim de 2021.
A exportação brasileira de soja em grão, por exemplo, cresceu 260% no primeiro bimestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, conforme noticiou o Canal Rural.
Em um recorde para o período, o país embarcou 9,7 milhões de toneladas, contra 2,7 milhões de toneladas nos dois primeiros meses de 2021.

"Houve uma recuperação das commodities, entre elas algumas importantes para a exportação no Brasil", ressaltou.

O especialista afirma que, na previsão anterior, a economia "caminhava para a estagnação". Segundo ele, um patamar baixo contribui para uma revisão positiva.

"Qualquer efeito internacional modifica a trajetória, mas o Brasil está abaixo da economia global e também da América Latina", destacou Rocha.

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'Estagflação' brasileira

Segundo recente relatório do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), o Brasil atravessa um período de "estagflação", uma combinação entre estagnação econômica e altas taxas de inflação.

"A economia está praticamente estagnada e a inflação vai chegar a algo próximo a dois dígitos. O que está sendo decisivo para explicar o baixo crescimento são dez anos de estagnação e dez anos de um PIB per capita que não cresce", avaliou Rochlin, da FGV.

Segundo o especialista, o quadro não diz respeito a uma questão conjuntural, mas estrutural. Ou seja, a situação brasileira vai muito além da crise ucraniana.

"Não adianta dizer que a Selic alta [atualmente está em 11,75%] dificulta o crescimento. Isso é fato, mas essa explicação não é decisiva", pontuou.

Apesar da previsão positiva sobre o PIB, os alimentos no Brasil continuam a ter os preços elevados. Na prateleira de um mercado em Recife composta por 13 itens essenciais para a rotina alimentar, dez deles sofreram aumento até o mês de março de 2021. Foto de arquivo
Para Marco Rocha, da Unicamp, as principais causas para o cenário são a "má condução da política econômica, sobretudo pelo Banco Central", em 2020 e 2021, que levou a um processo inflacionário, e a alta volatilidade da taxa de câmbio, principalmente em 2020.

"Tudo comprometeu o crescimento brasileiro. A incerteza política gerada em alguns momentos também não contribui para deixar o país mais atrativo", disse o economista.

Ele indica, porém, que o principal fator para a estagflação brasileira é o baixo consumo das famílias.

"As famílias vêm sofrendo muito, dada a taxa de desemprego, a queda do rendimento do trabalho e a inflação. Esse cenário torna muito grave a conjuntura econômica no Brasil", afirmou.

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