Angola procurará formas de contornar as sanções, segundo Vladimir Tararov, embaixador russo na Angola, que apontou que "não temos nenhuma cooperação comercial e econômica que possa ser ameaçada de alguma forma pelo bloqueio de contas correspondentes ou por aquelas sanções que os europeus impõem".
As sanções ocidentais não devem afetar a exploração conjunta russo-angolana de diamantes no país africano, e ela até deve aumentar, pois há vontade de continuar a cooperação, contou o embaixador em entrevista à Sputnik, em referência à empresa local Catoca, cuja principal acionista é a Alrosa, da Rússia. Ela foi sancionada por UE, EUA e Reino Unido, e possui 41% das ações da companhia angolana.
Segundo Tararov, outro projeto russo atual em Angola é o da empresa de fertilizantes Uralkhim. Praticamente todas as condições para ele arrancar já foram cumpridas, sendo que abastecerá o mercado interno, e ainda sobrará para exportar aos países vizinhos, "onde os mercados são praticamente infinitos".
"Em termos de fertilizantes, tínhamos empresas interessadas em trabalhar em Angola, e elas ofereciam, entre outras coisas, os chamados biopesticidas, que aumentam significativamente os rendimentos, e agora quase nenhuma produção agrícola pode passar sem pesticidas. Houve propostas em uma escala maior [e] em uma escala menor", explicou.
"Por exemplo, na cúpula [Rússia-África] em Sochi, em 2019, a Uralkhim assinou um contrato com uma parte local [angolana] para construir aqui uma fábrica de fertilizantes fosfatados. O projeto vale US$ 1,2 bilhão [R$ 6,1 bilhões], um investimento do lado russo. Em junho poderá ser colocada a primeira pedra desta fábrica", disse ele.
Exportações energéticas de Angola
Já sobre o fornecimento de gás à Europa, Tararov não vê como Angola pode substituir o papel da Rússia. Ele conta que os representantes e ministros europeus vêm preocupados na sua tentativa de substituir o gás russo, mas enfrentam um nível de infraestruturas muito reduzido no país africano. Angola apenas tem uma fábrica de gás liquefeito natural, que explora 74,5 milhões de métricos cúbicos de gás por ano, enquanto a Rússia extrai dezenas de bilhões de métricos cúbicos por dia.
O embaixador sublinhou também que dois terços da exploração angolana são para consumo interno, pelo que apenas vê a atratividade de um projeto de exportação à Europa em um futuro de médio ou longo prazo.
"A situação atual é tal que lhes permite desenvolver-se muito rapidamente, mas sem investimentos e sem grandes somas de dinheiro. Tal indústria não conseguirá arrancar, e a tecnologia é necessária. Entendo que as tecnologias ocidentais são avançadas neste aspecto, e existem também aqui oportunidades promissoras para o fornecimento de equipamentos tecnológicos. Isto poderia contribuir significativamente para a formação de uma indústria forte em Angola, inclusive com a ajuda de matéria-prima energética."
A China também está investindo muito no setor energético africano, particularmente o de Angola, sublinhou o representante russo, sendo responsável por 65% de seu petróleo explorado. Outros grandes investidores são Japão e Israel, referiu Vladimir Tararov.