Pequim de fato tomou uma posição dura contra Washington e a OTAN em relação ao conflito na Ucrânia, diz Thomas W. Pauken II, um comentarista de assuntos da Ásia-Pacífico baseado em Pequim e autor do livro "EUA vs. China: da Guerra Comercial ao Acordo Recíproco".
A China escolheu uma estratégia de equilíbrio no que diz respeito à crise na Ucrânia desde o início da operação especial de Moscou. Pequim não adotou as restrições antirussas do Ocidente e se absteve em várias ocasiões de votar nas resoluções da Assembleia Geral da ONU contra Moscou.
"Pequim tem pouco a ganhar ao se juntar ao coro internacional condenando Moscou", escreve Yan Xuetong, professor e reitor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Tsinghua em seu artigo de opinião no jornal Foreign Affairs.
Os chineses estão bem cientes de que, independentemente do que a China diz ou faz em resposta à operação especial russa, "é improvável que Washington suavize sua estratégia de contenção em relação a Pequim", segundo o professor.
"[Pequim] vê agora como Washington está deliberadamente escalando a guerra [na Ucrânia] a fim de perpetuá-la, enfraquecendo assim a Rússia e a China", escreve Xuetong. Se os EUA e a OTAN instrumentalizarem o "plano da Ucrânia" para provocar a China em relação à questão de Taiwan, que Pequim considera uma parte inseparável da China, é provável que a resposta do presidente Xi Jinping seja dura, ressalta Pauken.
"Os chineses acreditam que, se Taipé se juntar à OTAN ou declarar independência, Pequim não terá escolha a não ser invadir e retomar a ilha", escreve comentarista de assuntos de Ásia-Pacífico. "Os chineses não vêem uma separação pacífica chegando. Estão dispostos a morrer para retomar Taiwan. Mas os ocidentais parecem confusos e não entendem a mentalidade dos chineses em relação à questão de Taiwan".
Atualmente, a OTAN parece estar pronta para prosseguir com a expansão, já que a Finlândia e a Suécia estão pensando em aderir ao bloco. O comentador observa que também existem rumores de que o bloco militar transatlântico poderia admitir um dia a Coreia do Sul. A OTAN e Seul têm desenvolvido um diálogo e cooperação desde 2005.
Pauken considera que, em tempos de alta inflação, os maiores vencedores serão os mercados com grandes quantidades de recursos naturais, incluindo petróleo, gás, carvão, minerais, terra raras e muitas outras commodities. Ao mesmo tempo, os maiores perdedores serão aqueles que dependem muito da indústria de serviços e do consumo ou seja, União Europeia (UE), o Reino Unido e os EUA.
"O mundo enfrentará severa escassez de energia e alimentos, além de sérias perturbações nas cadeias de abastecimento globais", opina autor.
Enquanto isso, os laços comerciais entre a China e a Rússia provavelmente "permanecerão robustos e com potencial para um enorme crescimento para ambos os lados", uma vez que a Rússia é o maior detentor de recursos naturais do mundo e membro fundador da iniciativa Um Cinturão, Uma Rota, de acordo com Pauken.