Panorama internacional

'Tentativa de censura': entidades brasileiras repudiam ataque contra jornalistas russos em Berlim

Em meio ao crescimento de crimes com motivação política, a Alemanha investiga uma tentativa de ataque a bomba contra jornalistas russos. A Sputnik Brasil ouviu duas entidades brasileiras de defesa dos direitos de profissionais de mídia que condenaram o ataque.
Sputnik
Na sexta-feira (6), uma garrafa foi jogada contra a janela de um apartamento que abriga jornalistas russos e suas famílias em Berlim. Após o incidente, um esquadrão antibombas foi acionado e encontrou um explosivo no local. O dispositivo foi desativado pela polícia alemã, que abriu uma investigação.
A porta-voz associada do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Florencia Soto Nino comentou a questão no sábado (7), defendendo a liberdade jornalística e a investigação sobre o ocorrido. "Nada justifica ações contra profissionais de mídia em qualquer lugar. Eles devem ser respeitados", disse à Sputnik.
Policial alemão caminha em frente a viaturas durante investigação em Duesseldorf, na Alemanha, 6 de outubro de 2021
A Alemanha vive um aumento de crimes politicamente motivados. Segundo o próprio Ministério do Interior do país europeu divulgou nesta terça-feira (10), a Alemanha registrou ao longo do ano passado 55.048 infrações com pano de fundo político, um aumento de 23% em relação ao ano anterior. Essa foi a primeira vez que esse total ultrapassou a marca de 55 mil.
Na segunda-feira (9), o Ministério do Interior da Alemanha afirmou que aguarda os resultados de uma investigação de procuradores alemães e da polícia de Berlim para emitir uma posição oficial.

"O Gabinete da Procuradoria Pública Federal de Berlim está conduzindo uma investigação criminal sobre isso. A investigação está sendo conduzida pelo departamento de segurança pública da polícia de Berlim, é necessário aguardar o resultado", disse um porta-voz do Ministério do Interior durante uma coletiva de imprensa na capital alemã.

Entidades brasileiras repudiam ataque e defendem liberdade de imprensa

Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (Sjsp), Thiago Tanji, ataques à liberdade jornalística devem ser repudiados em qualquer situação e o caso de Berlim mostra tentativa de cerceamento da imprensa.

"Obviamente qualquer tipo de ação ou de ameaça são tentativas de cercear o livre trabalho da imprensa, são tentativas de censurar o trabalho jornalístico. Isso acontece com qualquer ator político, qualquer país, independentemente de questões geopolíticas ou políticas", afirma o sindicalista em entrevista à Sputnik Brasil.

Tanji salienta que assim como são feitas críticas ao governo russo em relação à liberdade de imprensa, é necessário "repudiar ataques e ameaças contra jornalistas russos ou de qualquer nacionalidade". O presidente do Sjsp informa que a organização já emitiu notas críticas tanto a posturas do Kremlin quanto a medidas contra a mídia russa no mundo.

"A gente tem uma posição muito clara pela paz, uma posição muito clara para que cessem todas as hostilidades. A gente acredita que os jornalistas sempre são essenciais para contar para boa parte da população do mundo o que está acontecendo, e isso de uma maneira que seja feita a partir da própria liberdade jornalística de apuração, de contar as histórias sem cerceamento de nenhum tipo", afirma.

Microfone com logotipo da Sputnik
Assim como Tanji, o diretor da Ordem dos Jornalistas do Brasil (OJB), Alex Canuto, repudia os ataques ocorridos em Berlim. Ambos citam violações à liberdade de imprensa no Brasil. Para Canuto, ameaças e violência contra a imprensa devem ser repudiadas.
"Qualquer ataque a jornalistas ou veículos de imprensa representa uma ameaça à liberdade de imprensa. Podemos concordar ou discordar da linha editorial de qualquer veículo de comunicação, mas nunca devemos partir para ameaças ou mesmo praticar violência", avalia Canuto em entrevista à Sputnik Brasil.
O diretor da OJB também comentou que há ataques institucionais em curso contra os meios de comunicação da Rússia por parte de países ocidentais como forma de cercear o lado oposto.

"Se o Ocidente considera que está, ainda que veladamente, em guerra, então é esperado que considerem instituições do lado oposto como inimigas. Isso já vem ocorrendo na escolha dos alvos das sanções econômicas. Agora parece que estão mirando também nas instituições de comunicação. Como diz o jargão da ciência militar: 'Na guerra, a primeira vítima é a verdade', e a aplicação prática desse princípio significa não deixar o oponente falar para seu público interno" disse.

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