A União Europeia não está preparada para uma "guerra" como a da Ucrânia, alertou o chefe de Relações Exteriores do bloco, Josep Borrell, na quarta-feira (25). Ele fez a afirmação em um painel de debate organizado pelo Centro de Estudos de Políticas Europeias (CEPS).
O principal diplomata afirmou que não acredita ser "realista" que as nações europeias possam melhorar substancialmente suas capacidades militares em tempo hábil, já que o processo é "voluntarista" e não há "lei da gravidade para fazer as coisas acontecerem".
Ele explicou que, embora as deficiências de defesa da UE sejam conhecidas, é preciso haver um "despertar" para que os membros atuem de maneira coordenada e não acabem desperdiçando dinheiro. No entanto, ele expressou sua consternação de que o conflito na Ucrânia aparentemente não era "o alerta certo".
De acordo com Borrell, a união deveria aprender com o conflito na Ucrânia. Para o principal diplomata do bloco, os exércitos europeus não conseguiriam manter um conflito semelhante por mais de duas semanas. "Eles [os exércitos do bloco] ficariam sem munição", afirmou.
Ele também apontou para o fato de que os europeus se acostumaram demais com a paz e se recusaram a reconhecer a ameaça que se aproximava do exterior. Ele afirmou que a UE foi construída com a bandeira da paz e que a guerra "desapareceu de nossa imaginação coletiva", depois que os fundadores do bloco decidiram tornar a guerra "mentalmente impossível".
"Não acredite que a paz é o estado natural das coisas. O estado natural das coisas é a guerra e nós, na Europa, estamos acostumados a acreditar que a paz é o estado normal e espero que não aprendamos que não é assim", disse.
Borrell passou a comparar os europeus a "grandes pássaros que enfiam a cabeça na areia" e não querem entender o quão perigoso é o mundo, insistindo que é importante fazê-los entender "como é o mundo".
Borrell pediu anteriormente um reforço das capacidades de defesa europeias e que as deficiências reveladas pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia sejam superadas. Ele escreveu em seu blog no domingo (22) que os exemplos mais óbvios de tais lacunas foram os "estoques esgotados resultantes do apoio militar que fornecemos à Ucrânia", bem como questões "herdadas de cortes orçamentários anteriores e subinvestimentos".
"A UE precisa assumir mais responsabilidade por sua própria segurança", o que exigiria a criação de "Forças Armadas europeias modernas e interoperáveis, olhando para o extremo superior do espectro e também se esforçando para aumentar as capacidades e forças", salientou.
O diplomata destacou três principais linhas de ação que devem eventualmente permitir ao bloco erradicar as deficiências atuais em sua defesa: trabalhar na prontidão para o combate, reposição de estoques e modernização de suas capacidades.
"A hora de impulsionar a defesa europeia é agora. Precisamos de reforçar a base industrial europeia de defesa e estar operacionais com as capacidades militares necessárias. Poder aumentar a nossa capacidade militar para nos defendermos, tornar a OTAN mais forte e apoiar melhor os nossos parceiros sempre que necessário", insistiu.
Enquanto isso, Moscou denunciou a crescente militarização da UE e argumentou que o bloco está se tornando um "jogador militante agressivo que tem ambições que vão muito além do continente europeu" e está seguindo os passos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).