O que a principal economia da América Latina deve fazer para melhorar seus índices de investimento? Essa é uma pergunta importante, que certamente estará passando pela cabeça dos candidatos à presidência do Brasil e suas respectivas equipes econômicas. O país, afinal, segundo pesquisa da FGV, tem uma taxa de investimento prevista para este ano de 18,4% do PIB, enquanto a média global é projetada em 27,3% (em uma lista de 170 países).
Ainda assim, a despeito dos resultados do índice de investimento, o Brasil voltou a criar empregos, a reboque da reabertura de mais setores da economia e do retorno da circulação de pessoas após dois anos de pandemia. A taxa de desemprego recuou para 11,1% no primeiro trimestre deste ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicando uma melhora no setor de consumo do país.
O que significa, portanto, essa baixa taxa de investimentos, e o quanto ela é influente sobre a economia real do Brasil? Conforme explicou Lucas Azeredo da Silva Teixeira, economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a ausência de investimento se dá porque há pessimismo, por parte dos empresários, com a economia brasileira.
Ele entende que embora a população ocupada tenha alcançado um patamar cerca de 1% acima do nível observado antes da crise sanitária, há aumento expressivo do emprego informal. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua constatou que a taxa de informalidade chegou a 40,1% no primeiro trimestre deste ano.
Essa combinação de fatores, aumento da informalidade com baixo índice de investimentos, é responsável pela estagnação da renda média do brasileiro, que não acompanhou a inflação nas 26 unidades da federação. Isto é: a renda per capita está no nível mais baixo desde 2012, e essa estagnação representa, na prática, uma redução, dado que há o efeito inflacionário.
E o que o Brasil deve fazer para melhorar seus índices de investimento?
O desenvolvimento econômico é influenciado por uma combinação de fatores. "Alguns economistas tendem a achar que a taxa de investimento é a variável que explica o crescimento econômico. A partir dessa análise, toma-se uma série de medidas para aumentar a taxa de investimento, partindo do princípio de que isso levará naturalmente ao crescimento do país", observou Lucas Teixeira.
Na opinião dele, há problemas com esse entendimento, "porque é o crescimento econômico que justifica o aumento nas taxas de investimento, e não o contrário. O mundo tem uma taxa de investimento maior porque, de uma forma geral, são países que crescem mais que o Brasil. Ao olhar para a série histórica, notamos que a taxa de investimento do Brasil aumentou. Quando a economia enfrenta baixo crescimento, sobretudo a partir de 2015, a mesma taxa desaba".
A explicação para esse fenômeno é que "os empresários do setor privado não devem investir em uma economia que não tem perspectiva de crescer". Segundo ele, "como a economia está estagnada, ninguém acha que vai vender no futuro. Não adianta tomar algumas medidas microeconômicas para melhorar o financiamento se o empresário não acha que conseguirá produzir e vender", afirmou.
Ele aponta que, no âmbito de conseguir mais investimentos, o país pode oferecer "coisas boas, como o crédito de longo prazo e outras iniciativas para estabilizar a taxa de juros". Essas medidas seriam bem-vindas, embora, na sua avaliação, insuficientes para mudar o quadro geral.
"Os empresários do setor privado não devem investir em uma economia que não tem perspectiva de crescer. Pode-se dar créditos baratos, mas se não houver perspectivas, os empresários não vão criar capacidade produtiva", comentou.
O economista acrescentou que para que haja mudança "é preciso ajuste fiscal e investimento em infraestrutura social. Quando o Estado gasta mais, há uma perspectiva de crescimento econômico que motiva os empresários a continuar investindo e criando capacidade produtiva para atender essa demanda. A baixa taxa de investimento é causada pelo baixo crescimento".
Atualmente, a taxa Selic está em 12,75% e deve alcançar mais de 13% neste ano. Com isso, as empresas tendem a rever investimentos, dado o encarecimento do crédito, o que impacta em outras variáveis importantes para o consumo: o emprego e a renda. Enquanto em nações desenvolvidas tem havido escassez de mão de obra e um consequente aumento dos salários, por aqui ocorre o oposto.
Para que o Brasil volte a crescer, e de forma consistente, concluiu o economista, é preciso haver um pensamento de longo prazo, com uma política econômica que controle a inflação e faça as reformas do Estado necessárias para facilitar a chegada dos investimentos que geram emprego e renda. Esses pontos devem estar na pauta da esfera pública, principalmente durante a campanha eleitoral. Caso contrário, um cenário de recuperação ficará cada vez mais distante.