Pelo menos 660 famílias ucranianas ficaram desabrigadas no Reino Unido depois de chegarem com vistos destinados a garantir um lugar para morar, revelam dados oficiais do governo obtidos pelo jornal The Telegraph.
Desde o fim de fevereiro, pelo menos 480 famílias ucranianas com crianças e 180 adultos precisaram solicitar ajuda em abrigos para sem-teto, pois não há moradias e nem um plano do governo para solucionar o problema.
Os dados expõem as brechas no programa estatal "Homes for Ukraine" (Casas para a Ucrânia, em tradução livre), que não conseguiu garantir 145 acomodações.
Dessas, 90 não estão mais disponíveis porque o arranjo com a família britânica que receberia os refugiados falhou e outras 55 nem chegaram a ser ocupadas, porque os locais estavam indisponíveis ou inadequados para a chegada dos "novos moradores".
No início de março, o governo do Reino Unido introduziu dois esquemas para apoiar os refugiados ucranianos.
O primeiro foi o "Homes for Ukraine", que envolve cidadãos do Reino Unido oferecendo acomodações que os refugiados ucranianos podem solicitar. O segundo foi o "Refugees at Home" (Refugiados em Casa, em tradução livre), para pessoas que desejam se juntar a parentes ou prolongar sua estadia no Reino Unido.
Lauren Scott, diretora-executiva do programa "Refugees at Home", lamentou a atual situação. "Esperar que refugiados vulneráveis e traumatizados dependessem da boa vontade de estranhos que conheceram no Facebook [plataforma pertencente à empresa extremista Meta, banida no território da Rússia] sempre foi um risco", disse.
As autoridades locais do Reino Unido, escreve a publicação, "estão tratando as famílias ucranianas como sem-teto em vez de tentar encontrar novos anfitriões".
Com isso, elas são deixadas em albergues e hotéis. Para Scott, essa "é uma situação de pesadelo. Exatamente a que esperávamos evitar".
O projeto "Homes for Ukraine" ajuda os refugiados ucranianos a encontrar alojamento temporário e gratuito no Reino Unido. Cada agregado familiar que acolhe migrantes tem direito a um pagamento de 350 libras (R$ 2.179).
Críticas do setor de inteligência
Em 13 de março, os chefes dos serviços de inteligência britânicos MI5 e MI6 alertaram para os perigos das intenções do governo do Reino Unido em receber refugiados da Ucrânia.
Em comunicado para a secretária do Interior do Reino Unido, Priti Patel, eles avisaram que "uma política completa de portas abertas" para os refugiados ucranianos pode ser perigosa.
A inteligência britânica entende que há o risco de essas medidas permitirem o ingresso de militantes do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) no país, além de criminosos ligados a máfia.
Na época, Emmanuel Macron, presidente francês, também acusou o Reino Unido de ser negligente com "as necessárias verificações de segurança rigorosas e regras de visto para impedir que supostos agentes ou terroristas entrem no Reino Unido".