Panorama internacional

Países da Ásia-Pacífico não devem ficar sob 'muro perigoso' da OTAN, segundo Global Times

Sendo produto da Guerra Fria e a principal causadora do conflito na Ucrânia, a OTAN é um perigo para a estabilidade da Ásia-Pacífico. Os países da região, que estão fazendo parte da cúpula da OTAN, devem reconsiderar suas relações com Washington para não agravar os laços com Pequim, diz o artigo de opinião publicado no Global Times.
Sputnik
Na véspera da cúpula da OTAN em Madri iniciada em 28 de junho, o Global Times apresentou uma análise das atividades da aliança e seu papel no mundo contemporâneo. Chamando a OTAN de "produto da Guerra Fria", o autor do artigo afirma que a aliança está desencadeando uma "nova guerra fria", mas de um tipo muito diferente da do século XX.

"Aos olhos dos espectadores, o bloco – produto da Guerra Fria – está levantando a cortina para uma 'nova guerra fria'." Referindo-se ao artigo do Foreign Policy, publicado na segunda-feira (28), o autor diz: "Outra e muito diferente guerra fria está para começar [...]. Na cúpula em Madri vamos ver os líderes do Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia se juntando à reunião pela primeira vez – agora estão sendo desenhadas linhas da batalha que podem permanecer por gerações", indica-se no artigo.

Tal visão pessimista, supõe o autor, reflete a preocupação geral da comunidade internacional sobre a situação atual no mundo.
Exprime-se também a desaprovação do posicionamento que os países da OTAN têm assumido em relação à China. Assim, de acordo com as previsões para a cúpula de 28-30 de junho, a China pela primeira vez será declarada um "desafio" no conceito estratégico da OTAN. Ao mesmo tempo, os líderes do bloco ainda não conseguem elaborar uma visão conjunta sobre a China.
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"Enquanto os EUA e o Reino Unido seguem com uma posição radical quanto à China, tais países como a França ou a Alemanha creem que para descrever a China é preciso usar termos mais equilibrados e cautelosos. Anteriormente, o presidente francês Emmanuel Macron avisou que 'não podemos prejudicar nossas relações com a China'. Certos diplomatas da Lituânia e Portugal também têm expressado preocupações de que a OTAN está se concentrando demasiado na China, tendo em conta que os países da OTAN não partilham suas fronteiras com o país. Esse 'debate feroz' em si demonstra até que ponto a retórica de 'a China ameaçando a OTAN' é absurda", diz o artigo.

Assim, o autor resume que todos os 30 países que fazem parte da OTAN não podem partilhar a mesma opinião sobre crises geopolíticas ou ameaças político-militares. Ao aderirem à OTAN, os países são frequentemente forçados a se tornar "vassalos" ou "peões" de Washington. Como resultado, suas preocupações relacionadas com a segurança não desaparecem, mas, no fim das contas, os países acabam enfrentando "riscos imprevisíveis de agravamento".

"De qualquer forma, a OTAN é um bloco político-militar e nada pode mudar sua natureza. Sua própria existência apresenta ameaça para a paz e estabilidade mundial", afirma-se no artigo.

Presidente dos EUA, Joe Biden, durante cúpula da OTAN em Madri, 29 de junho de 2022
O autor do artigo compara a aliança militar com um "muro perigoso", referindo-se a um filósofo antigo chinês que um dia disse que "o cavalheiro não deve ficar sob um muro perigoso". Ou seja, de certo modo pode-se dizer que a OTAN é o maior "muro perigoso" no mundo hoje em dia.
Para provar sua argumentação, o autor recorre ao exemplo sobre o desencadeamento da crise ucraniana em 24 de fevereiro de 2022, afirmando ser uma demonstração clara das consequências desastrosas do dilema de segurança europeia, provocada pela OTAN.
"A OTAN de forma direta causou e agravou o dilema de segurança europeia sem parar. O desencadeamento do conflito entre a Rússia e a Ucrânia é a demonstração de suas consequências desastrosas. Os fatos provam que as tentativas de atingir a segurança absoluta sob o nome de 'defesa coletiva' afinal de contas levarão ao confronto entre os campos. Ou seja, a OTAN não é de forma alguma um antídoto para a crise de segurança na Europa, é veneno. Se alguém decidir espalhar este veneno para a Ásia Oriental, que é chamado de 'oásis da paz e desenvolvimento mundial', tal comportamento será insidioso e terrível", destaca-se no artigo.
A coisa mais preocupante, diz o Global Times, é a presença na cúpula da OTAN do Japão e da Coreia do Sul, que não fazem e não devem fazer parte da aliança militar. "É um passo muito negativo", afirma o autor. Os interesses dos países da Ásia-Pacífico baseiam-se na paz e estabilidade da região. A decisão de cooperar com a OTAN, defende, é uma escolha extremamente imprudente por parte de qualquer país da Ásia-Pacífico e vai certamente prejudicar as relações estratégicas de confiança mútua com a China e "inevitavelmente ocasionar consequências".
A herança da Guerra Fria não pode de modo algum penetrar no oceano Pacífico, conclui o artigo. Assim, os países da Ásia-Pacífico têm de chegar a consenso sobre seu próprio dilema de segurança, aprendendo as lições da Europa "de maneira correta".
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