Um estudo desenvolvido pelo laboratório DATA_PS a pedido do jornal O Globo e divulgado hoje (5) elaborou um mapa ideológico do debate público no Twitter a partir das redes de perfis que são seguidos por políticos e militares na plataforma.
De acordo com o levantamento, membros do topo da hierarquia das Forças Armadas vivem "em uma bolha de extrema direita" na rede social e se encontram inseridos em uma rede de políticos bolsonaristas e influenciadores olavistas, segundo a pesquisa.
No estudo, o jornal relata que localizou 26 oficiais do último grau hierárquico, sendo a maioria de generais (23), com contas ativas na plataforma. Entre eles estão integrantes do governo Bolsonaro, como o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos.
"Os generais são significativamente alinhados a um lado específico da direita brasileira, com forte relação com o campo bolsonarista. Eles são, em geral, pouco seguidos, e seguem mais perfis bem à direita", disse o pesquisador e autor do levantamento Francisco Kerche citado pela mídia.
Baseado nos dados das contas desses generais, além de um universo de 668 políticos entre deputados, governadores, ministros e senadores, a pesquisa encontrou seis redes agrupadas por suas afinidades ideológicas. Dentre elas, três se destacam pela sua relevância na atuação nos debates na rede social.
A mídia escreve que na lista de usuários mais seguidos pelos oficiais estão perfis institucionais das Forças Armadas, ministros, veículos de imprensa e uma variedade de páginas com conteúdo de extrema direita.
Nesse catálogo ideológico de maior interesse dos generais estão políticos que são figuras marcantes do bolsonarismo como os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Carla Zambelli (PL-SP) e major Vitor Hugo (União-GO).
Também estão entre os canais preferidos dos generais contas dedicadas ao ideólogo Olavo de Carvalho. Influenciadores como Leandro Ruschel e Bárbara 'Te Atualizei', que chegaram a ser alvos de investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) por propagarem fake news, também estão na lista diz o jornal.
Para o oficial da reserva e mestre em Ciências Militares, Marcelo Pimentel entrevistado pela mídia, militares têm o direito de se posicionarem individualmente, desde que na inatividade e sem se vincular à instituição. Entretanto, isso não está ocorrendo nessas contas, onde a maioria dos oficiais se apresentam com suas patentes de general, usam roupas fardadas ou outras referências militares.
"Isso afronta a Lei 6880, que define a ética militar, onde está determinado que os membros das Forças Armadas devem abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas em atividades político-partidárias e no exercício de cargos da administração pública", afirmou.
Segundo uma portaria publicada em julho de 2021 pelo Exército e citada pela mídia, a função militar somente pode ser associada a perfis em redes de publicação de currículos e atividades profissionais, tais como o Linkedin.
Especificamente sobre o Twitter, a portaria ressalta que o "ato de seguir ou curtir perfis" e postagens "é considerado um endosso" ou uma aprovação àquele conteúdo. "Sendo assim, é preciso muito critério nas ações de relacionamento nesta mídia social", completa o texto.
Segundo o cientista político Mauricio Santoro, a instituição militar sempre foi envolvida com política no Brasil, desde a independência em 1822. Porém, ele afirma que até o golpe militar de 1964 havia uma "pluralidade" maior entre a tropa, com correntes mais liberais e outras mais conservadoras.
"Essa turma dos anos 1970 que se formou com Bolsonaro tem uma visão marcada pelo anticomunismo, pela Guerra Fria e de que os militares deveriam salvar politicamente o Brasil. Hoje, na vida pública brasileira, é nítida essa conexão da cúpula do governo com ideais da linha dura do regime", declarou.
O jornal relata que questionou o Exército se os generais estariam contrariando a regra impunemente, porém não obteve retorno.