"A realidade é que, além do Talibã, no atual Afeganistão não há uma força política com que se possa conduzir o diálogo ou construir relações econômicas", escreveu Kravtsov em um artigo publicado na sexta-feira (8) na revista Rossiya v Globalnoi Politike (Rússia na Política Global).
Os que apostam nas forças de oposição, em particular, na Frente de Resistência Nacional do Afeganistão, segundo o analista, "cometem um grande erro".
"Os separatistas têm ainda menos experiência [...] do que os talibãs. O reinício da guerra civil sangrenta, sem dúvida, não corresponde aos interesses dos próprios afegãos, nem dos seus vizinhos", salientou Kravtsov.
Ao mesmo tempo, supõe o perito, nem a Rússia, nem o Paquistão ou os países da Ásia central não vão ajudar Cabul a superar os problemas internos destrutivos.
"Contudo, é bastante possível e mesmo aceitável dar aos afegãos a oportunidade de, por conta própria, equilibrarem a situação étnico-confessional. Não há dúvidas de que os talibãs vão fazê-lo de forma rápida e eficaz por estarem interessados em um reconhecimento internacional o mais rápido possível", explica.
O que os vizinhos do Afeganistão e os maiores países da região realmente podem fazer é ajudar o governo interino a superar a crise humanitária para, entre outras coisas, evitar o fluxo de refugiados esfomeados do Afeganistão, destacou Kravtsov.
"Como sabem, a Rússia recebeu uma delegação dos círculos econômicos pro-Talibã durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, que estão interessados em chegar a um acordo sobre o fornecimento ao Afeganistão uma série de produtos fabricados na Rússia, bem como de combustível e alimentação", disse.
Além disso, os sinais "pacíficos" do Talibã foram positivamente recebidos pelos vizinhos do Afeganistão, segundo o analista. Assim, Tashkent (capital do Uzbequistão) estabeleceu um diálogo permanente sobre os problemas econômicos com Cabul, enquanto Teerã tem planos de regular as questões da utilização da água com os talibãs.
Combatentes do Talibã (organização sob sanções da ONU por atividade terrorista) assumem o controle do palácio presidencial afegão depois que o presidente Ashraf Ghani fugiu do país, em Cabul, Afeganistão, 15 de agosto de 2021
© AP Photo / Zabi Karimi
"Só há uma conclusão: hoje em dia não é uma questão principal se a Rússia vai reconhecer o Talibã ou não. O que é mais atual é que, empreendidos esforços conjuntos das forças regionais, é possível, e ao mesmo tempo é preciso, fornecer aos talibãs um apoio econômico eficaz, dar-lhes a oportunidade de superar a crise humanitária e, através disso, eliminar tais ameaças como o Daesh [organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países] e os talibãs do Paquistão", salienta Kravtsov.
Afinal de contas, além de chegar a um acordo com as minorias étnicas, e através disso garantir a segurança para investimentos estrangeiros, não há outras variantes para Cabul, acredita o analista.
No início de agosto de 2021 os talibãs fortaleceram sua ofensiva contra as forças do governo do Afeganistão. Em 15 de agosto eles entraram em Cabul e no dia seguinte anunciaram que a guerra no país tinha acabado. O então presidente afegão Ashraf Ghani afirmou que tinha deixado o país "a fim de pôr fim ao massacre".
Na noite para 31 de agosto os militares americanos deixaram o aeroporto de Cabul, o que assinalou o fim de 20 anos da presença militar norte-americana no Afeganistão. No início de setembro foi anunciada uma nova composição do governo interino do Afeganistão, liderado por Mohammad Hassan Akhund, que tinha ocupado o cargo de ministro das Relações Exteriores durante a primeira chegada do Talibã ao poder. Mohammad Hassan Akhund está sob sanções da Organização das Nações Unidas desde o ano de 2001.