Panorama internacional

Na contramão das sanções do G7, Brasil está de olhos fixados no comércio com a Rússia, diz professor

Muitas sanções do Ocidente estão vigorando contra a Rússia, porém são poucos os resultados efetivos. É a leitura pragmática que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil mantém a respeito da questão e ao se recusar a banir o petróleo russo, segundo analisou um especialista ouvido pela Sputnik Brasil.
Sputnik
Ontem (7) o Itamaraty confirmou que não apoiará a iniciativa dos países do G7 de estabelecer limites ao preço de compra para a importação de petróleo russo.
Em uma resposta por escrito à Sputnik, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro disse que "por não fazer parte do G7, o Brasil não acompanha suas deliberações internas".
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Para Christopher Mendonça, professor de relações internacionais do Ibmec Belo Horizonte, o peso da economia é o que traz equilíbrio à balança diplomática, com uma postura brasileira de neutralidade ante a operação militar especial da Rússia na Ucrânia.
De acordo com ele, "há muitas sanções em vigor contra a Rússia e poucos resultados destas no freamento" do conflito ucraniano.

"O Brasil tem mantido certa distância das sanções aplicadas pelo Ocidente à Rússia. Embora a diplomacia brasileira não declare apoio formal aos russos, não há por parte do Brasil nenhum interesse em retaliar o país com quem mantém boas relações comerciais. Nas áreas de energia, de produtos agrícolas e de insumos importantes na agricultura, como os fertilizantes, a Rússia e o Brasil mantêm cooperações que não pretendem ser rompidas em razão do conflito. A meu ver, a decisão do presidente [Jair] Bolsonaro via Itamaraty está correta", avaliou Mendonça.

Líderes dos países do G7 (Reino Unido, Alemanha , Itália, Canadá, EUA, França e Japão), reunidos em cúpula entre os dias 26 e 28 de junho, confirmaram sua intenção de reduzir a dependência energética da Rússia e concordarem provisoriamente em começar a limitar preços para o óleo e o gás russos.
De acordo com um comunicado após o encontro, os líderes do G7 "saúdam a decisão da União Europeia de explorar com parceiros internacionais formas de conter os preços da energia, incluindo a viabilidade de impor uma restrição temporária aos preços de importação, quando necessário".
Bandeiras dos Estados-membros do G7, em 6 de maio de 2022
A recusa brasileira em endossar a postura das sete economias mais ricas do mundo tem base em uma avaliação muito pragmática por parte do Itamaraty, argumentou Mendonça.

"Mesmo diante da necessidade de se parar o conflito na Ucrânia, a diplomacia brasileira está de olhos fixados nos resultados práticos do dia a dia comercial. Limitar o preço do petróleo russo poderia inclusive gerar uma ampliação dos preços dessa commodity no mercado internacional. A luta interna do Brasil é outra: em ano eleitoral, uma das principais preocupações do presidente Bolsonaro é a de levar os combustíveis a um recuo de preço ao consumidor e a de manter o abastecimento dos produtos vindos da Rússia no Brasil sob condições de preço razoáveis", observou o professor do Ibmec.

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Dentro desse contexto, Mendonça lembra que o Brasil é um dos membros do BRICS, grupo que reúne também Rússia, Índia, China e África do Sul.
Ele apontou que a recusa em adotar as sanções contra insumos russos não visa criar antagonismo com o G7, mas, sim, dar um recado sobre a importância da parceria comercial com o Kremlin.

"O Brasil é membro do BRICS e tem uma parceria importante com a Rússia. Evitar a adoção das sanções ocidentais não é, a meu ver, polarizar com o G7, mas deixar claro que os russos são parceiros imprescindíveis na balança comercial do Brasil, assim como a China, que é hoje a nossa parceira comercial número um. Em um momento de grande crise externa e de corrida eleitoral, o Itamaraty acerta ao dizer que não tem condições de seguir o que o G7 determina neste momento. Não se trata apenas de alinhamento ideológico, mas muito mais de pragmatismo responsável", concluiu.

Cerimônia de encerramento do Fórum Empresarial do BRICS. Foto de arquivo
Desde o início da operação militar especial russa na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, os EUA e seus aliados iniciaram a aplicação de uma miríade de sanções contra Moscou. Entre as medidas estão restrições econômicas às reservas internacionais russas e a suas exportações de petróleo, gás, aço e ferro.
A escalada de sanções transformou a Rússia, de forma disparada, na nação mais sancionada do mundo, segundo a plataforma Castellum.ai, serviço de rastreamento de restrições econômicas no mundo.
No total, estão em vigor 11.254 medidas restritivas contra a Rússia, segundo os cálculos do site. A quantidade é mais que o triplo das 3.637 sanções impostas pelo Ocidente ao Irã. Na sequência, aparecem a Síria (2.614), a Coreia do Norte (2.111), Belarus (1.133), a Venezuela (651) e Mianmar (567).
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