"O Brasil tem mantido certa distância das sanções aplicadas pelo Ocidente à Rússia. Embora a diplomacia brasileira não declare apoio formal aos russos, não há por parte do Brasil nenhum interesse em retaliar o país com quem mantém boas relações comerciais. Nas áreas de energia, de produtos agrícolas e de insumos importantes na agricultura, como os fertilizantes, a Rússia e o Brasil mantêm cooperações que não pretendem ser rompidas em razão do conflito. A meu ver, a decisão do presidente [Jair] Bolsonaro via Itamaraty está correta", avaliou Mendonça.
"Mesmo diante da necessidade de se parar o conflito na Ucrânia, a diplomacia brasileira está de olhos fixados nos resultados práticos do dia a dia comercial. Limitar o preço do petróleo russo poderia inclusive gerar uma ampliação dos preços dessa commodity no mercado internacional. A luta interna do Brasil é outra: em ano eleitoral, uma das principais preocupações do presidente Bolsonaro é a de levar os combustíveis a um recuo de preço ao consumidor e a de manter o abastecimento dos produtos vindos da Rússia no Brasil sob condições de preço razoáveis", observou o professor do Ibmec.
"O Brasil é membro do BRICS e tem uma parceria importante com a Rússia. Evitar a adoção das sanções ocidentais não é, a meu ver, polarizar com o G7, mas deixar claro que os russos são parceiros imprescindíveis na balança comercial do Brasil, assim como a China, que é hoje a nossa parceira comercial número um. Em um momento de grande crise externa e de corrida eleitoral, o Itamaraty acerta ao dizer que não tem condições de seguir o que o G7 determina neste momento. Não se trata apenas de alinhamento ideológico, mas muito mais de pragmatismo responsável", concluiu.