Foi publicado na última sexta-feira (1º), no periódico britânico Zoological Journal of the Linnean Society, um novo artigo apresentando uma redescrição do arcossauriforme Proterochampsa nodosa, animal predador do Triássico Superior (há 237 milhões de anos e 201,3 milhões de anos) do Rio Grande do Sul.
Os proterocampsídeos eram répteis predadores de médio. Até agora, fósseis desses animais foram encontrados, exclusivamente, em rochas do Triássico da Argentina e do Rio Grande do Sul.
Reconstrução do hábito de vida de Proterochampsa nodosa há 230 milhões de anos
© Foto / Divulgação/Arte: Márcio L. Castro
As espécies desse grupo apresentam características muito semelhantes aos jacarés e crocodilos de hoje em dia, como um focinho alongado, crânio largo e achatado, grandes dentes cônicos e narinas dorsais na ponta do focinho.
As semelhanças levam os paleontólogos a acreditar que esses animais, provavelmente, teriam uma dieta e hábito de vida similar. Mas, apesar disso, os proterocampsídeos pertenciam a uma linhagem completamente separada.
O estudo recém publicado trata do fóssil de um crânio grande (42 cm), quase completo e com sua mandíbula articulada, escavado em rochas do município de Candelária na década de 1970, e descrito em 1982 pelo paleontólogo Mario Costa Barberena.
O material só havia sido brevemente descrito na época de sua descoberta. Nas últimas décadas, a relação do Proterochampsa nodosa com a outra espécie argentina, Proterochampsa barrionuevoi, se tornou incerta.
Detalhe do crânio do único espécime conhecido de Proterochampsa nodosa, descoberto na década de 1970, visto de cima, e de lado
© Foto / Divulgação / PUC-RS
O trabalho dos cientistas brasileiro jogou luz ao mistério. O emprego de tecnologias de tomografia computadorizada tornou acessível áreas do crânio que são impossíveis de se observar externamente.
Pelo fóssil ter sido preservado com a boca fechada, até o momento se desconhecia a anatomia do palato do animal. Através das imagens de tomografia, os pesquisadores puderam, virtualmente, separar o crânio e a mandíbula.
"Depois de 230 milhões de anos, o Proterochampsa finalmente abriu a boca novamente", brinca Daniel de Simão Oliveira, aluno do doutorado do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Animal da UFSM e um dos autores da publicação.
Com base no trabalho, foi possível aprofundar e definir melhor as diferenças entre as espécies irmãs do gênero Proterochampsa, confirmando que os fósseis argentinos e brasileiros são duas espécies diferentes, ainda que aparentadas.
Detalhe do crânio e da mandíbula de Proterochampsa nodosa, que foram separados virtualmente no novo estudo, a partir das tecnologias de imagem
© Foto / Divulgação / PUC-RS