"Por um lado, os líderes africanos desejam lucros milionários, obtidos dos acordos de fornecimento de gás, mas, por outro, eles chamam o interesse súbito em seus recursos de 'padrão duplo'", que perpetua a exploração do continente pelo Ocidente. Estão perguntando por que a África tem de acabar com combustíveis "sujos", que dificultam o acesso à eletricidade para centenas de milhões de pessoas, diz a agência.
Os países europeus, que se manifestavam contra o uso do gás e outros tipos de combustíveis fósseis no mundo a fim de conseguir as metas climáticas, agora querem aumentar ainda mais a compra de gás da África. Assim, em abril, a Itália fechou um acordo de compra de gás de Angola e da República do Congo, com a Alemanha planejando chegar a acordo com o Senegal.
No entanto, os países ricos não querem patrocinar gasodutos e produções que poderiam facilitar a utilização do gás na própria África, bem como não cumprem suas promessas de financiar os "projetos verdes", que poderiam se tornar fontes de energia renováveis. Tal abordagem irrita os líderes africanos, que precisam de qualquer combustível para tirar milhões de pessoas da pobreza, salienta a Bloomberg.
"Isso não ajuda a segurança energética, não ajuda a Nigéria nem o ambiente. É uma hipocrisia, com que se deve acabar", cita a agência as palavras do presidente nigeriano Muhammadu Buhari.
A Bloomberg dá como exemplo os dados, segundo os quais uma usina de gás natural liquefeito na ilha Bonny, Nigéria, no ano passado produziu gás suficiente para satisfazer as necessidades de metade do Reino Unido durante todo o inverno. Grande parte do gás produzido foi levada para Espanha, França e Portugal, enquanto os moradores da cidade adjacente africana usam querosene e diesel do mercado negro, produzidos do petróleo roubado das usinas da Shell, Eni e TotalEnergies (empresas multinacionais petrolíferas), para fogões a lenha.